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Mais do que atuar, ela virou símbolo e foi mito de uma geração

Conheci a Norma quando eu tinha dez anos e ela, 15. Estudávamos piano com a mesma professora. Ela era uma das coisas mais deslumbrantes que eu já vi na vida. Eu ficava fascinado. E a via também no Florentina, o bar que todos frequentavam, no Leme. Aos 17, ela entrou para o programa do Carlos Machado e virou vedete. Um tipo novo de vedete, fazia um número muito mais inteligente. Nunca foi óbvia. Ela saiu da classe média, virou vedete – e se tornou um sucesso enorme. Depois, virou atriz, a musa do Cinema Novo. Em Os Cafajestes, há a cena antológica do primeiro caso de nudez completa do cinema brasileiro. O filme foi até proibido pela censura. Depois voltou. E Norma ficava inteiramente nua em um momento extraordinário do cinema, neste filme genial do Ruy Guerra. Fez muitos filmes e virou a vedete do cinema brasileiro. Fazia papéis sérios, pois era muito boa atriz. Fez Casa Assassinada, Noite Vazia. É um belo momento dela, no melhor filme do Walter Hugo Khouri. Ela pertenceu à linhagem de Leila Diniz e de uma série de mulheres que abriram caminho para uma geração. Éramos amigos, sempre próximos. Norma Bengell era isso. Perdemos contato nos últimos anos, pois estou morando em São Paulo há muito tempo e ela tinha sua vida no Rio. As pessoas vão sumindo umas das outras. A lembrança que tenho é sempre a de uma pessoa corajosa, nova, de comportamento revolucionário. E, claro, da beleza, do talento. Seu talento era real. Norma foi muito além da interpretação e da figura de atriz. Criou uma imagem simbólica, um mito, como Leila Diniz. Mas a vida foi passando, o Cinema Novo foi passando. Ela foi passando. Tudo passa. E ela se foi. Este é um dia para se relembrar esta grande mulher.

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Por Arnaldo Jabor
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