Mãe e filha estréiam "Savannah Bay" em São Paulo

Helena Ignez e Djin Sganzerla, mãe e filha trazem ao Centro Cultural São Paulo a peça de Marguerite Duras com a direção de Rogério Sganzerla, o pai e marido.

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Por Agencia Estado
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Mulher de rara beleza e atriz de talento, Helena Ignez tinha 17 anos, estudava direito e arte dramática em Salvador, sua terra natal, quando conheceu o cineasta Gláuber Rocha, em 1958. Casaram-se um ano depois e ela foi a responsável pela produção de O Pátio, primeiro filme do cineasta, que marca o início da carreira artística de ambos. Considerada a musa do cinema novo, só entre 1961 e 1973, Helena atuou em 15 filmes, entre eles produções marcantes na história do cinema brasileiro como O Assalto ao Trem Pagador de Roberto Farias, O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, e O Padre e a Moça, que lhe valeu uma Menção Honrosa no Festival de Berlim de 1967, entre outras premiações nacionais e internacionais de sua carreira. O sucesso no cinema jamais afastou Helena do teatro, onde também foi premiada por suas atuações nas montagens Salomé, de Oscar Wilde, e Cabaret Rimbaud. Amanhã à noite, ela sobe novamente ao palco na estréia do espetáculo Savannah Bay, de Marguerite Duras. Depois de temporadas elogiadas pela crítica em Salvador e no Rio, de ter participado do evento "1.999..." promovido pelo Sesc/SP, ano passado, e ainda ter sido escolhido para encerrar o festival internacional de teatro Porto Alegre Em Cena, o espetáculo estréia amanhã no Centro Cultural São Paulo. A montagem reforça uma longa parceria artística e familiar. Já separada de Gláuber, Helena casou-se com Sganzerla em 1968 e com quem fez diversos filmes e teve duas filhas: a atriz Djin e a musicista Sinai. Em Savannah Bay, Helena contracena com sua filha Djin, sob direção do cineasta Sganzerla - em uma de suas raras incursões pelo teatro. Helena e Djin repetem uma contracena já realizada no cinema, no mais recente filme de Sganzerla, Signo do Caos, iniciado há cinco anos, já editado, emperrado no gargalo da distribuição. "Eu estava fazendo Cacilda! quando li a peça de Marguerite pela primeira vez", conta Djin, que substituiu Iara Jamra na temporada da montagem dirigida por Zé Celso. "Fiquei a um só tempo fascinada e assustada: o texto pareceu dificílimo à primeira leitura." O medo durou pouco. Djin acabou por produzir o espetáculo. Já Helena, há muito estava mergulhada na obra da romancista, roteirista e dramaturga Marguerite. "Pensei em fazer Ágatha, mas desisti quando soube que já havia uma montagem (dirigida por Roberto Lage) em São Paulo" diz Helena. Inédito no Brasil, Savannah era um desafio ainda maior. "O texto é sutil, fala de memória e esquecimento, trabalha com conceitos abstratos." Por isso, mesmo acreditando na beleza do espetáculo, Helena surpreendeu-se com a reação favorável de público e crítica em Salvador. "A emoção flui; as pessoas vinham conversar conosco após o espetáculo muito emocionadas." Tardes de chá - A trama gira em torno do encontro de duas personagens. Helena interpreta uma grande atriz, Madeleine, uma diva outrora aplaudida em vários países, cuja memória foi fendida. Djin vive uma jovem que busca conhecer a história de seus pais e, para isso, precisa descobrir o acesso à memória da atriz. Ambas encontram-se às tardes para tomar chá. "A peça mostra que, na vida, o grande vilão é o esquecimento", diz Helena. "A necessidade da memória é um tema que inquieta Marguerite Duras", afirma Sganzerla. E lembra que isso pode ser percebido, por exemplo, no roteiro, de sua autoria do filme Hiroshima Mon Amour, de Alain Resnais. "Savannah Bay é um espetáculo ritualístico, cheio de silêncios, carregado de simbolismos, uma epifania espiritual", diz Helena. "Minha personagem quer saber como foi o encontro de amor entre seus pais, numa certa noite quente, na baía de Savannah, no mar do Sião", comenta Djin. "Mas não é só isso; ela quer também trazer essa mulher de volta à vida." Para isso, ela usa artifícios como, por exemplo, despertar antigas lembranças por meio de uma rara gravação de Edith Piaf da canção Les Mots d´Amour. A canção integra a trilha sonora do espetáculo com um mantra vietnamita, um concerto de Schubert, além do sempre presente som do mar. A concepção do espetáculo foi feita por Helena e Sganzerla juntou-se à equipe para um direção final. "A gente precisava de um olhar de fora", diz Helena. "Minha contruibuição foi pequena", minimiza Sganzerla. Pelo menos para a crítica especializada, não foi bem assim. Críticos atribuíram a Sganzerla o tom onírico e poético que perpassa todo o espetáculo e a beleza das imagens criadas no palco, seja pelas projeções, seja pela movimentação das atrizes no cenário. A encenação vale-se do recurso de projeções criadas pelo videomaker André Guerreiro Lopes, ator da Cia. do Latão. E os cenários foram criados por Fernando Mello da Costa. A produção teve o apoio do Instituto Takano, Estúdio Grannun, Casarão Mudanças, Papelaria Universitária e Normandie Design Hotel. Savannah Bay - De Marguerite Duras. Direção de Rogério Sganzerla. Duração: 60 minutos. Sexta e sábado, às 21h30; domingo, às 20h30. R$ 12,00. Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho. Rua Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611. Até 11/2 Manoel ribeiro rodrigues 9132-4328 coordenador das oficinas

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