MAC expõe os "Quixotes" de Portinari

Textos de Carlos Drummond de Andrade acompanham a série de 21 desenhos a lápis que datam da década de 50, quando Portinari foi obrigado a se afastar das tintas, por orientação médica

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Por Agencia Estado
Atualização:

Obrigado a afastar-se das tintas por orientação médica, por conta da intoxicação que acabou provocando sua morte, em 1962, o pintor Cândido Portinari criou em 1956 uma série de desenhos a lápis com cenas do maior romance do século 20, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. O conjunto, feito em tons suaves de amarelo e azul, está exposto no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, desde ontem, para convidados, a partir de hoje, para o público. A simpática homenagem ao pintor de Brodósqui, em seu centenário de nascimento, também traz quatro telas do acervo do museu. Chega para manter o nome do pintor em cartaz em São Paulo: enquanto o MAC inaugurava ontem a mostra, a Pinacotheke encerrava uma mostra com 66 obras de Portinari. A série de desenhos de Portinari foi encomendada pela editora José Olympio, para um projeto que acabou engavetado. Os desenhos só foram sair quase dez anos depois, em um álbum que trouxe para cada desenho um texto de Carlos Drummond de Andrade. Os versos estão expostos no MAC também, assim, como uma edição rara da obra de Cervantes. De acordo com o museu, é a primeira vez que o conjunto é exposto desde uma mostra no Masp, nos anos 70. Sem ter a força de sua obra relacionada à denúncia social, esta série de desenhos impressiona pela leveza do traço e suavidade de cores, aproximando-a do lirismo que caracteriza os trabalhos que remetem à infância do pintor no interior de São Paulo. Além disso, revelam uma admiração pelo anti-herói de Cervantes. E uma identificação também. Neste sentido, o trabalho ganha cores autobiográficas. À época de sua criação, Portinari era visto como um pintor ultrapassado, ainda preso à figuração, num momento em que a arte abstrata explodia no País. D. Quixote - Portinari. De terça a sexta, das 10 às 19 horas; sábado e domingo, das 10 às 16 horas. Museu de Arte Contemporânea da USP. Rua da Reitoria, 160, tel. 3091-3039. Até 23/3.

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