
04 de dezembro de 2014 | 02h05
A torcida do Botafogo tem um consolo adicional para a má fase do seu time. Existe a velha máxima, dita com um certo orgulho fatalista, de que certas coisas só acontecem com o Botafogo. Não é verdade, ninguém está livre de sucumbir a fases ainda piores do que a dele - veja-se o Vasco. Mas, no caso do Botafogo, a dor do rebaixamento é atenuada pela lembrança de que o clube tem uma vocação para o drama. Viver um momento de completa descrença no time é reafirmar, ao mesmo tempo, o folclore que o diferencia de todos os outros. Assim, quanto pior for a situação do time, melhor a literatura que o cerca.
O rebaixamento fortalecerá o folclore. Sofreremos como nenhuma outra torcida, e voltaremos dos mortos em 2015 - está bem, talvez 2016 - purgados e triunfantes. E a estrela solitária se erguerá das cinzas, como já aconteceu antes, e brilhará no céu da pátria outra vez.
O começo. Leitura recomendada para os nostálgicos da ditadura: a entrevista com o historiador Pedro Henrique Pedreira Campos publicada pela Folha de S.Paulo nesta segunda-feira. Pedro Henrique é o autor do livro Estranhas Catedrais - As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-militar, recém-publicado. Na sua pesquisa de quatro anos para o livro, ele estudou a participação das empreiteiras no golpe de 64 e a sua relação com o governo militar que se seguiu, e os casos de corrupção, que na época eram acobertados porque não existia fiscalização, a imprensa era censurada e qualquer crítica era considerada contestação ao regime. O poder das empreiteiras, que nasceu no governo Juscelino, aumentou com seu acesso direto ao Estado ditatorial e sobreviveu ao fim da ditadura, com os mesmos maus hábitos. Pedro Henrique diz que, na era dos militares, a apropriação do Estado pelas empreiteiras era até maior do que o que está sendo revelado hoje por instituições democráticas como o Ministério Público e a Polícia Federal. Mas também reconhece que foram mantidas certas estruturas, em relação à distribuição de cargos e ao aparelhamento político, que facilitam a corrupção.
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