
20 de outubro de 2013 | 03h21
Outro dia conheci o Moacyr Franco sem querer, saindo do restaurante La Fiorentina no Rio de Janeiro e me emocionei. Como foi bom ter dado um abraço nele e poder dizer cara a cara como sou seu fã. Pude fazer isso inúmeras vezes com Chico, ainda bem, e ouvi-lo falar sobre tudo e todos. Esse ano me encontrei com o Carlos Alberto de Nóbrega e foi outro momento na minha vida. Com Paulo Silvino, Agildo Ribeiro e Orlando Drumond, tive a honra de ter dividido a cena. Jorge Dória eu vi no teatro fazendo Molière, graças a Deus. Também posso bater no peito e dizer que o Jô Soares mudou a minha vida. Foi por causa da sua boa vontade que eu descobri o que eu queria fazer pra sempre.
Mas hoje eu queria falar de uma pessoa da qual eu sou especialmente fã. O Lúcio Mauro pai. Que ator. O que me impressiona nele, acima de tudo, são as pausas. Os tempos. Se comédia é timing, timing é Lúcio Mauro. Ele consegue transformar a cena com um arregalar de olhos, com uma inversão de sorriso. Da Júlia (meu personagem favorito) era quem fazia Alberto Roberto brilhar. A gente ri da cara dele, só de olhar. A seriedade de seus personagens faz com que eles sejam muito verdadeiros. Fernandinho e Ofélia eram um primor. A troca de intenção do momento em que ele está rindo da piada do amigo pra quando ele percebe que a piada é com a sua própria mulher tem que ser estudada pela NASA. É um tempo inimitável. Ter o domínio disso é algo que está dentro da pessoa. É isso que faz a piada ser engraçada ou não. O tempo. Quando você ri do Leandro Hassum, do Lúcio Mauro Filho ou do Marcelo Médici, você está rindo do tempo que eles "escolheram" pra contar aquilo. A pausa, a velocidade das palavras, o ritmo da entonação que foi empregado naquela frase.
Acho que o maior elogio que um comediante pode receber é: vocês inventam tudo aquilo ali, na hora? Claro que não. Tem um texto, meses de tentativa e erro, só que agora ficou tão natural na embocadura do comediante que parece que ele tá falando aquilo ali pela primeira vez da cabeça dele. Eu fiz um filme com o Lúcio Mauro. Foi uma cena de vinte segundos, mas foram os vinte segundos mais legais de todos, porque eu estava de frente para o Senhor do Tempo. Que te faz morrer de rir com um piscar de olhos. O cara que sabe transformar o silêncio em aplauso. Palmas eternas pra Lúcio Mauro!
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