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Lucas Mendes: Palhaços no Senado

Colunista comenta os casos que deram a fama de 'circo' ao Senado de Nova York.

Por Lucas Mendes
Atualização:

Vamos tirar a cartola para o Senado em Brasília. Equilibristas geniais, quanto mais bamba a corda, mais bombam, mágicos, sem varinha, puff, fazem desaparecer bilhões, trapezistas capazes de saltos mortais quádruplos. Morrem e ressuscitam. Mas, senhoras e senhores, os palhaços do Circo Senado de Nova York podem brilhar em qualquer das nossas assembleias. Não sabemos quem foi o cidadão indignado e debochado que, vestido de palhaço, se misturou aos senadores quando estavam trancados do lado de fora do Senado, patetas diante das câmeras. O palhaço perguntou: "Que horas começa o espetáculo?" Os políticos se escafederam em segundos, mas, na imprensa, quando entra a crise do Senado de Nova York, o selo é uma cara de palhaço e os jornais e TVs se referem ao Senado como "o circo". Nos telejornais quando o apresentador anuncia "agora vamos para o circo em Albany" entra a matéria com os senadores. Aqui temos senadores estaduais eleitos para mandatos de 2 anos e, pela primeira vez em 40 anos, o partido democrata re-assumiu a liderança do Senado com uma margem de 2 votos, 32 a 30. A queda republicana teve a ajuda de Obama, Hillary Clinton, o sentimento anti-Bush e a grana do bilionário Tom Golisano. Este Golisano já foi candidato à vários cargos e, apesar da fortuna, nunca conseguiu se eleger. Ano passado financiou as campanhas dos democratas e achava que estava com os senadores no bolso, mas uma das primeira medidas do novo Senado foi aprovar um imposto sobre a fortuna dele e de outros bilionários do Estado. Golisano queimou no golpe e anunciou a mudança de residência para a Flórida. "Já vai tarde", anunciou o governador. Golisano, amargo, foi conversar com o democrata líder da maioria que tinha recebido dinheiro dele, mas em vez de prestar atenção na arenga do bilionário, o senador ficou brincando com o nove telefone celular. O rico jurou vingança e armou um golpe. Convenceu, secretamente, dois democratas latinos a votar com os republicanos e, numa sessão rotineira do dia 8 de junho, convocaram uma surpreendente votação para liderança. Com os votos dos dois democratas o golpe deu certo. Os republicanos retomaram o Senado. Durou pouco. Os democratas trancaram as portas da Casa, apagaram as luzes, esconderam as chaves e este nheco-nheco foi esticando com dezenas de leis importantes pendentes ameaçadas: casamento gay, aumento de impostos, controle das escolas públicas de Nova York, proteção de inquilinos, novos direitos de aborto. Neste impasse a cidade e o Estado correm risco de perder milhões de dóllares federais. O governador cego e pobre nas pesquisas ficou uma fera. Rugiu ameaçador: "Não vou permitir esta bagunça. O golpe é ilegal". No dia seguinte enguliu o rugido. Por lei, não pode obrigar os senadores a votar, mas ele pode convocar sessões extraordinárias diárias e acabar com os fins de semana, ferias e feriados dos senadores. Tentaram levar para a Justiça, mas o juiz disse que isto não era problema deles: "Se virem". Neste impasse, um dos senadores vira-casaca, desvirou. Monserrate voltou para o partido e criou um empate de 31 a 31. O circo pegou fogo. Na sessão extraordinária convocada pelo governador, democratas ficaram num picadeiro do Senado, republicanos no outro e falavam ao mesmo tempo, mas não um com outro. Houve ameaça de briga para ver quem pegava o martelo. Entre eles, os republicanos aprovaram 88 leis, os democratas 15. Absolutamente inúteis porque nenhuma tem mais de 31 votos. Não há voto de minerva. Ele seria dado pelo vice-governador, mas David Petterson foi promovido a governador quando Elliot Spitzer renunciou pelas suas conexões com prostitutas, inclusive uma brasileira. Não há vice e, pior, se o governador sair do Estado quem assume é o Espada, Pedro Espada Jr, latino do Bronx, um dos dois traidores democratas e um dos maiores palhaços do circo. Palhaço e canalha. Tem vários processos e multas por violações das leis de contribuições políticas, está sendo investigado por mentir sobre o endereço e por financiar, com dinheiro do contribuinte, dezenas de ONGs fajutas. A grana sempre acaba no bolso dele. O outro democrata, Hiram Monserrate, também latino, de Queens, é outro tipo de bandido. Está sendo investigado porque em dezembro passado cortou o rosto da namorada com um copo quebrado. Ela foi para o hospital, levou 30 pontos, deu queixa, ele foi preso e aguarda julgamento, solto sob fiança. Pressionada, a namorada mudou de história, mas o processo continua, ele pode ir para a cadeia e perder o mandato. Os novaiorquinos querem cortar os salários - e outras coisas - dos palhaços do Circo Senado. Não é sé aqui. No México ganha força a campanha do voto nulo nas eleições desta semana e o desencanto com a política e políticos corre o mundo, de Brasília a Londres e adiante. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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