Longa explora o gosto mórbido pela violência

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Provavelmente não estaríamos falando de A Serbian Film - Terror Sem Limites caso alguém não houvesse tido a infeliz ideia de proibi-lo, ato que configura grave atentado à liberdade de expressão. Deixando esse aspecto de lado: como obra, em si, A Serbian Film tem pouco a dizer. Tomado por seu valor de face, apresenta a sexualidade humana como repositório de horrores, da qual, conclui-se, seria melhor se abster em nome da sanidade. O corpo feminino é apropriado como objeto para o gozo sádico, e degradado sem qualquer contemplação. Exprime uma visão de mundo misógina e bastante doentia. Já o verniz político - que justificaria a extrema violência das cenas - parece rarefeito, pífio, indigente mesmo. Ele se apresenta nas franjas do discurso de um "psicólogo" que contrata o ex-ator pornô para que este atue numa obra radical. Com boa vontade, esse discurso diria o seguinte: o horror sexual visto na tela seria apenas metáfora do horror real vivido pelo país. O argumento pode convencer a quem faz da ingenuidade profissão de fé. Convence também a quem se mostra ávido de violência, desde que ela se "justifique" em nome de algo mais nobre que o impulso sádico puro e simples. Seria inútil discutir A Serbian Film do ponto de vista da ética das imagens. Ele não a tem. Spasojevic não demonstra nenhuma preocupação a respeito. Conduz seu trabalho a uma espiral de truculência, em especial na segunda parte, até levá-lo à dimensão do trash absoluto. Torna-se, por vezes, involuntariamente cômico. Há que se defender de maneira intransigente o princípio de que o cidadão adulto tem o direito de ver o que bem quiser, sem ser tutelado pelo Estado. Já a obra, em si, é indefensável.

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