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Lixo de Curitiba vira acervo de museu

Instaldo em Campo Magro, a 25 quilômetros do centro de Curitiba, museu reúne 1.500 peças diferentes encontradas no lixo desde 1989, ano de criação do programa de coleta seletiva de lixo

Por Agencia Estado
Atualização:

A coleta seletiva de lixo em Curitiba, que começou em 13 de outubro de 1989, não trouxe apenas um ganho ecológico para a cidade. Dentro dos sacos de lixo, os catadores puderam recolher também um pouco de história. Cerca de 1.500 peças diferentes já foram coletadas e hoje compõem o Museu do Lixo, local que recebeu, somente no ano passado, 17 mil visitantes brasileiros e estrangeiros. Instalado na Fazenda Solidariedade, no município de Campo Magro, a cerca de 25 quilômetros do centro de Curitiba, o museu é mantido pelo Instituto Pró-Cidadania, uma organização não-governamental que assessora a prefeitura curitibana. Na mesma fazenda, por meio da Fundação de Ação Social, a prefeitura tem um trabalho de recuperação de alcoólatras e de fitoterapia. A Usina de Reciclagem foi inaugurada em junho de 1990. Mas o museu só surgiu em 1997, quando os funcionários perceberam as preciosidades que passavam por suas mãos. "São deles os critérios para trazer uma peça ao museu", diz a bióloga Elisângela Marchiorato, responsável pelo trabalho de educação ambiental. A maioria das peças, sobretudo as mais antigas, ainda não foi catalogada. Sem o trabalho de um especialista, somente é possível saber a idade daquelas que possuem alguma inscrição. A bióloga disse que faz parte do projeto ter a catalogação do acervo feita por um especialista. Uma das maiores peças, colocada na entrada do museu, foi doada por uma gráfica curitibana: um linotipo fabricado em Nova York, em 1919. Estrangeiros - Entre os visitantes do museu, a maioria é de estudantes. "Por meio do museu, contamos um pouco da história de Curitiba, das telecomunicações e das mudanças econômicas", diz Elisângela. Mas o acervo chama a atenção também de turistas estrangeiros, que são atraídos pelo programa de reciclagem de lixo. No livro de controle, há assinaturas, entre outros, de egípcios, norte-americanos, franceses, alemães e muitos argentinos. Na semana passada, um grupo de coreanos e japoneses esteve no museu. Nas fotos antigas podem-se observar paisagens de Curitiba e as vestimentas do início do século 20. Chama a atenção o objeto mais antigo, entre os identificados, que está pregado em uma parede. É um mapa de Curityba, de 1857, mostrando algumas ruas centrais e os rios, que hoje estão todos submersos. Tanto quanto pelo mapa, também há um carinho especial por uma filmadora a corda, fabricada pela Continsouza, de Paris, de idade ainda não estimada. Também muito antigos são alguns livros, como o Principes de Chimie, de A. Noquet, impresso em 1875 pela Librairie F.Sovy, de Paris. No lixo foram encontrados utensílios domésticos de prata misturados a espremedores de frutas artesanais, antigas centrais e aparelhos telefônicos, históricas máquinas de escrever e exemplares dos primeiros computadores. Alguns projetores de filmes ainda estão em bom estado, assim como os famosos rádios caixas-de-abelha. A mudança econômica brasileira pode ser observada nas centenas de moedas de formas e valores diferentes encontradas no lixo. Armas, mísseis e até uma moldagem com selo do Museu do Louvre, de Paris, enfeitam o local. "Há peças que, apesar de não serem tão antigas, não são conhecidas por muitas crianças", diz Elisângela. Entre elas, estão centenas de discos de 78 rotações ou um carimbador de tíquetes de trem. Ao mesmo tempo em que o museu vai crescendo com as descobertas realizadas no meio do lixo, uma biblioteca com obras mais recentes está sendo erguida. Mais de mil livros livros já estão catalogados, entre eles coleções completas das enciclopédias Delta Larousse e Barsa. Um dos computadores utilizados pelos funcionários da Usina de Reciclagem também foi encontrado no lixo. Doações - De lá também saíram a televisão e o videocassete utilizados em aulas de educação ambiental para as crianças que visitam o museu. Em Curitiba, são coletadas mensalmente 2 mil toneladas de lixo reciclável, mas somente 30% desse volume vai para a Usina de Reciclagem em Campo Magro. Ali é feita a separação e o enfardamento do material, posteriormente vendido como insumo às indústrias de transformação. Com a renda, o Instituto Pró-Cidadania atende aproximadamente 80 entidades sociais.

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