25 de maio de 2014 | 03h16
O bom livro te leva a acreditar que você foi escrito também. Me lembro, ao ler A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, que fiquei muito surpreso quando, em dado momento, o caixeiro viajante morre. Eu estava tão tomado pela peça que tinha me esquecido do "spoiler" do título. É claro que ele deveria morrer, é o que se espera que aconteça desde a capa, mas a obra me tirou do meu mundo e me levou para o mundo dela. Ler O Processo, do Kafka foi um fardo. Não pelo livro, que é um dos meus preferidos, mas porque a cada parágrafo eu me sentia exausto com aquilo tudo, minha leitura se arrastou junto com o processo. Genial!
Agora estou lendo Shantaram, um livro de mil páginas (mil, eu disse mil) que é inteiro passado em Bombaim. Eu nunca fui à Índia, mas depois de ler esse livro, poderei afirmar pra qualquer um que já estive. A cidade se abre na sua frente, o cheiro dos lugares, a pluralidade da população, os hábitos de uma gente completamente diferente da sua.
O autor descreve tudo de forma tão fluida, clara e instigante que eu, ao final dessa odisseia, não vou dizer que li o livro, vou dizer que fui à Índia e voltei, sem nem ter saído do Brasil. E, recentemente, li O Encontro Marcado, de Fernando Sabino, e fiquei na dúvida se tinha gostado ou não. O livro é bem escrito, claro, mas eu odiei o personagem principal. O tipo de pessoa pela qual eu não tenho nenhum tipo de afeto. Logo, o livro se tornou chato pra mim, porque não torcia para ele. Mas, ao mesmo tempo, me perguntei se, pelo fato de o personagem me gerar esse tipo de sentimento, isso não seria exatamente o que um bom personagem também pode gerar. E aí gostei do livro. Leia, sempre. Tudo.
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