PUBLICIDADE

Livro traz a arte ingênua do Rio de Janeiro

Por Agencia Estado
Atualização:

O francês Lucien Finkelstein apaixonou-se pelo Rio desde a primeira vez que aqui chegou, em 1948. Esse amor pela cidade o impediu de voltar para casa, fez dele um grande colecionador de arte brasileira e o levou a fundar o Museu Internacional de Arte Naïf (Mian). Agora, em mais uma demonstração desse afeto, Finkelstein está lançando, com a editora Campos da Paz, o livro Rio de Janeiro Naïf, com 40 quadros de dez artistas reproduzindo as paisagens e as cenas do cotidiano da Cidade Maravilhosa. O livro é conseqüência do sucesso de uma exposição montada em 1998, com 30 quadros de artistas cariocas (ou radicados no Rio) retratando a cidade. O sucesso foi tão grande que, cada vez que pensava-se em encerrá-la para dar espaço a outras das oito mil peças do acervo, o público reclamava. "Decidimos então incluir esses quadros sobre o Rio na mostra permanente", conta a vice-presidente do Mian, Mariza Campos, também autora dos textos do livro, traduzido em cinco idiomas. "No ano passado, resolvemos ampliar o número de quadros para 40 correspondendo aos lugares preferidos dos cariocas, segundo a pesquisa Rio Incomparável, da Riotur. Os novos quadros foram encomendados a artistas já presentes no acervo do Mian, com uma única exigência: pintar no estilo naïf, também conhecido como primitivo ou ingênuo. "Há muitos artistas naïf no Brasil e eles fazem mais sucesso no exterior que aqui", conta Mariza. "Dos mil visitantes mensais que recebemos, a maioria vem de fora, talvez devido ao convênio com o trenzinho do Corcovado, cuja estação fica ao lado do museu. Quem vai ao Cristo tem desconto de 50% no nosso ingresso de R$ 5,00." Mariza explica que o estilo naïf se caracteriza por não se prender a nenhuma escola e ser, geralmente, figurativo. Quase sempre, os artistas são autodidatas, exercem outras profissões e muitos começam a pintar já adultos. "Eles não precisam obedecer regras e pintam com mais liberdade, às vezes criando cores e formas que não víamos antes de existirem nos quadros", explica Mariza. "Como eles retrataram cenas e paisagens do Rio, o livro traz um texto contando onde fica e a história do que aparece em cada quadro." Dos dez artistas presentes no livro, apenas a carioca Lia Mitarakis e Agostinho de Freitas já morreram. Ela usa verdes e azuis fortes para retratar o Pão de Açúcar (no centro da imagem superior) e a Lagoa Rodrigo de Freitas (na zona sul), mas sua pintura passeia também pela Ilha de Paquetá, pela Praça 15 (centro) e pela Floresta da Tijuca. Ele tem apenas um quadro, reproduzindo os Arcos da Lapa (à esquerda na imagem superior), no centro da cidade, um dos monumentos mais antigos do Rio. O carioca Dalvan (da Silva Filho) é o mais jovem dos dez pintores e também um dos poucos que abandonou sua antiga profissão de especialista em robótica. Dalvan usa cores mais sóbrias que Lia e gosta de reproduzir os locais de lazer do carioca. Assim ele pinta a Praia da Barra da Tijuca, o Centro Cultural Banco do Brasil, o Maracanã, um shopping center ou mesmo a Ilha Fiscal. A ex-secretária Helena Coelho, que só começou a pintar seriamente depois de se aposentar, prefere encher de pessoas as igrejas da cidade, como a da Glória, a de Nossa Senhora do Bonsucesso ou a da Candelária. O réveillon de Copacabana foi pintado pelo ex-ferroviário Ozias (à direita na imagem superior), enquanto a niteroiense Bebeth preferiu mostrar o Jardim Botânico e o Parque das Ruínas, criados no século passado, mas usados até hoje. Como os artistas tinham liberdade para retratar o Rio em qualquer época, eles misturaram modernidade com aspectos antigos. O livro Rio de Janeiro Naïf foi patrocinado pela Prefeitura do Rio e está à venda apenas em dois locais: na sede do Mian e na Livraria Jacques Ardies, em São Paulo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.