
03 de maio de 2012 | 10h13
Baseada nos diários e nas cartas do padre e da ex-monarca, Gloria reconstituiu, de forma delicada mas precisa, uma sofrida e apaixonada relação. "Foi platônica, como bem afirma o historiador Ronaldo Vainfas na introdução de meu livro", comenta a pesquisadora. "Mas também foi muito erótico." Obrigado a se manter em silêncio, Vieira (1608-1697) tornou-se o capelão particular de Cristina, que conseguiu tal liberação diretamente com o papa Clemente IX. Ela já era admiradora de seus sermões, daí a insistência em manter um contato direto.
Na verdade, são dois personagens fascinantes. Antônio Vieira passou 62 anos de sua vida dedicado às atividades religiosa e literária, que dariam ao idioma português o mais esmerado dos tratamentos e o mais aprimorado domínio da técnica. Já Cristina Vasa surpreendeu o mundo ao abdicar do trono sueco em 1654 por motivos incertos - aparentemente foram problemas para governar, como dificuldade na fixação de impostos e más relações diplomáticas com a Polônia. Mas ela era uma mulher muito avançada, pois gostava de vestir trajes masculinos, nunca se casou e teve casos com homens e mulheres.
O relacionamento entre o padre e a ex-rainha se baseou em encontros mais ou menos regulares no Palácio Riario, onde Cristina residiu. Vieira também participou em silêncio dos encontros da Accademia Reale, fundada por ela e centro de discussões intelectuais. Ele escreveu textos lidos pelos cardeais e por Cristina sobre temas diversos, como a ameaça dos turcos sobre a Europa ou críticas à sujeira e ao abandono em que se encontrava Roma.
"Em diálogo com Cristina, ele abriu pouco a pouco a alma", comenta Gloria, observando que o padre se lembrou de admirações passadas para sublimar o desejo. "Quando se referiu à rainha Dona Luisa, Vieira disse: ''No momento em que me deparei com Dona Luisa, fui tomado por enormes forças e desejos - e uma labareda de fogo surgida de algum lugar proibido invadiu a minha vida. Encontrei um mundo que eu ainda não havia pisado.''"
A amizade uniu o religioso e a rainha até 1675, quando o papa Clemente X absolve Vieira das acusações da Inquisição. Não voltaram mais a se falar, apesar da insistência de Cristina. Quando morreu, em 1689, ela foi sepultada na Basílica de São Pedro, entre papas, a pedido de Padre Vieira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O PODER ERÓTICO
Livraria Argumento. Rua Dias Ferreira, 417, Leblon, tel. (21) 2239-5294. Quinta, às 20 h (lançamento com debate).
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