Livro revela perfil da belle époque paulistana

Rua Domingos de Morais, 10. 1910. Uma chácara luxuosa tornava-se centro cultural informal, onde intelectuais e artistas encontravam-se para viver a belle époque, tempo em que a aristocracia paulistana copiava hábitos e costumes de Paris e procurava uma autoreferência cultural. Assim era a Villa Kyrial, lugar de convívio que reuniu figuras cruciais para a cultura contemporânea brasileira como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Lasar Segall e Guilherme de Almeida. Não eram poucas as obras e pinturas que decoraram essa chácara, doadas pelos próprios artistas que a freqüentavam. Escritores, pintores, escultores, músicos e políticos faziam reuniões semanais na Villa sob o comando do anfitrião José de Freitas Valle, gaúcho que foi advogado, poeta, político e importante mecenas. Toda essa memória foi demolida em 1961. Mas, agora, 40 anos depois, algumas das preciosidades da Villa foram resgatadas por Marcia Camargos, jornalista que lança Villa Kyrial - Crônica da Belle Époque Paulistana. O livro resgata a importância de Valle e do local para a cultura brasileira. "Muito do que foi proposto pela Semana de Arte Moderna de 22 foi antes discutido na chácara", conta a autora. Para compor a obra, Marcia passou anos pesquisando em arquivos da família, bibliotecas e entrevistando personalidades. "Guardava tudo o que descobria, mas não sabia como organizaria o material", conta. A confecção do livro tornou-se possível com a aprovação para apresentar Villa Kyrial como objeto de estudo de tese de doutorado em História Social pela USP. O estudo, no entanto, não esgota toda a história da Villa. "O livro inclui apenas uma parte de todo o material inédito. Quero organizar uma exposição, mostrar fotos, caricaturas e filmes que coletei e divulgar ainda mais essa importante fase da história cultural do País." O prefácio foi escrito pelo crítico literário Antonio Candido. Sua primeira frase é reveladora: ?São felizes os estudos que podem preencher lacunas como esta?.