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Livro reúne quatro peças de Maria Adelaide Amaral

"A Resistência", "Bodas de Papel", "De Braços Abertos" e "Querida Mamãe" saem pela Coleção Melhor Teatro da Editora Global

Por Agencia Estado
Atualização:

O bom autor teatral escreve para seu tempo. Como acreditava Shakespeare, sua arte serve de espelho para seu público. Lidas em conjunto, as quatro peças de Maria Adelaide Amaral, publicadas na Coleção Melhor Teatro da Editora Global - "A Resistência", "Bodas de Papel", "De Braços Abertos" e "Querida Mamãe" - acabam por revelar muito do período em que foram criadas e encenadas - meados da década de 70 ao início dos anos 80. Redação de uma revista: essa é a ambientação de "A Resistência", escrita em 1975, a primeira da jornalista Maria Adelaide, que entre 1970 e 1986 foi redatora na Editora Abril. O conflito latente nas relações pessoais, nessa peça, explode por conta de um detonador externo: o anúncio de cortes de pessoal. Detecta-se aí, o início da total desmobilização política e a valorização do individualismo que marcará os anos 80. O personagem ´militante´ de "A Resistência", o único que tenta ação coletiva, é um sujeito egoísta, insensível nas relações pessoais e assim o texto aponta para a idéia nascente na época, da não conciliação entre individuação - não confundir com individualismo - e ação coletiva. A peça, que estreou em 1979, tem bons diálogos, cenas que fazem a ação avançar, boa trama, une todos os elementos de um texto teatral capaz de prender a atenção do espectador. Lida hoje, tem ainda como mérito revelar a ação destrutiva que a essa altura a ditadura militar já tinha exercido sobre a capacidade de articulação política em coletivos de trabalho. Em "Bodas de Papel", escrita um ano depois, o desemprego está no centro do conflito e o individualismo já é indiscutível - cada um por si é a lei. A idéia da luta coletiva já desapareceu até do cenário, um apartamento de classe média. São personagens desamparados no campo social. A idéia de serem vítimas e agentes de um sistema competitivo não lhes passa pela cabeça, a ação coletiva não existe nem mesmo como objetivo longínquo ou elemento de conflito. Ideologia, eu quero uma para viver? Não. Eles sofrem, mas perseguem status, dinheiro, bons salários - e não ter isso é sinônimo de fracasso em todos os níveis. "De Braços Abertos" e "Querida Mamãe", as duas outras peças do livro, não por acaso, enfocam relações estritamente pessoais e resultaram em belas montagens. Na primeira, Sérgio e Luísa (Juca de Oliveira e Irene Ravache) ambos casados, vivem uma relação extraconjugal. A segunda trata da relação mãe e filha. Inesquecível a atuação de Irene em ambas, plena de pausas densas, que levava o espectador a alternar riso e lágrimas, com seu talento para se apropriar dos ´diálogos poderosos´ de Maria Adelaide, como os definiu o crítico Macksen Luiz.

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