Livro repassa trajetória do editor José Olympio

Em José Olympio - O Descobridor de Escritores, Antônio Carlos Villaça revê a história do fundador da editora responsável pelo lançamento de obras de Graciliano Ramos, Jorge Amado e Guimarães Rosa, entre muitos outros autores

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Para a escritora Rachel de Queiroz, autora de O Quinze e Caminho de Pedras, trata-se de contar a história de um "herói da nossa gente". Rachel, no caso, refere-se a José Olympio Pereira Filho, o J.O., fundador da editora que recebeu seu nome e responsável pela publicação de inúmeros clássicos da literatura e das ciências humanas brasileiras. J.O. (1902- 1990), 70 anos após a fundação de sua editora, recebe um homenagem, na forma de um livro: José Olympio - O Descobridor de Escritores, de Antônio Carlos Villaça, traça a história do paulista de Batatais, nascido em dezembro de 1902, filho do guarda-livros José Olympio Pereira, este natural da Bahia. "É um biografia carinhosa, fraternal, de um grande figura humana", afirma Villaça. Não é, portanto, um levantamento exaustivo, crítico e/ou aprofundado, mas, principalmente, de um discurso em respeito ao papel exercido pelo editor. Atualmente, o selo José Olympio é um dos que integram o grupo Record, assim como as tradicionais Civilização Brasileira e Bertrand Brasil. A venda da editora, que em 1975 passou para o controle do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, estatal) e em 1984 foi privatizada, comprada por Henrique Sérgio Gregori, foi anunciada em maio, durante a mais recente Bienal do Livro do Rio de Janeiro. A Livraria José Olympio, que daria origem à editora, nasceu em novembro de 1931, em São Paulo, quando o futuro editor compra cerca de 10 mil obras que haviam pertencido à biblioteca de Alfredo Pujol. José Olympio chegara a São Paulo em 1918, para trabalhar como ajudante da Livraria Garraux. Em 1934, se transferiria para o Rio, cidade em que conheceria seu maior crescimento. A obra de Villaça, além de apontar as principais datas relacionadas à vida e ao trabalho de J.O., reúne uma série de fotos e documentos, divididos em quatro cadernos de imagens. Também traz depoimentos de intelectuais, políticos e escritores sobre ele. A história de José Olympio, assim, vai sendo contada com a ajuda de nomes como Gilberto Freire, Juscelino Kubistchek e Carlos Lacerda. A edição, contudo, é um tanto prejudicada pela impressão que, realizada em papel cuchê (brilhante), acabou ficando mais fraca do que o desejável para proporcionar uma leitura agradável. Acervo - É impossível pensar a literatura e o pensamento brasileiro do século 20 sem passar por obras editadas por J.O. "José Olympio será o editor dos romancistas do Nordeste", escreve Villaça. De fato, nomes como Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel, José Américo de Almeida e José Lins do Rego tiveram obras editadas ou reeditadas por ele. Graciliano, J.O. decidiu editar durante o regime Vargas, quando o escritor, por conta de sua militância política, esteve preso. Antes que saísse Angústia, perguntou ele a Jorge Amado: "Quem é esse doido que pretende editar o livro de um homem na cadeia?" Impressão semelhante teve Lins do Rego, quando, logo após a publicação de seu Menino de Engenho, recebeu em Maceió um telegrama propondo uma tiragem de 10 mil exemplares para seu próximo romance, Bangüê, e uma reedição simultânea de sua primeira obra - o que ocorreria em junho do ano de 1934. Mas J.O. não pode, apenas por ter editado Graciliano, ser incluído no rol dos opositores do Estado Novo. Isso porque o editor também foi o responsável pela publicação de discursos de Getúlio Vargas, que permitiram ao ditador candidatar-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. "Não conheci ninguém que tão completamente respeitasse a livre manifestação do pensamento", escreve Rachel na apresentação da biografia. "Editava Plínio Salgado e Jorge Amado; parnasianos e antropófagos. A Casa era o asilo seguro onde se acolhiam e respeitavam todas as opiniões", completa ela. Guimarães Rosa, que teve seu Grande Sertão: Veredas lançado pela José Olympio em 1956, assim como a versão definitiva de Sagarana, disse, em 1961, ao receber o Prêmio Machado de Assis, da ABL, que seus livros tiveram sorte: "Encontraram editor inteligente, corajoso e amigo admirável, o grande José Olympio, que nunca poderia deixar de lembrar em ocasião como esta." Outro clássico publicado por José Olympio, na coleção Documentos Brasileiros, inicialmente dirigida por Gilberto Freire, foi Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda. "O grande tema dele como editor era o Brasil", defende Villaça. Lançamento - A biografia de José Olympio será lançada em São Paulo, no dia 15, às 19 horas, no Centro Universitário Maria Antônia (R. Maria Antônia, 294, tel. 0--11 255-5538). José Olympio - O Descobridor de Escritores. De Antônio Carlos Villaça. Thex Editora (tel. 0--21 2221-4458), 290 págs.,R$ 35.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.