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Livro registra saga do Teatro Opinião

A dramaturga Maria Helena Kuhner e a jornalista Helena Rocha lançam Para Ter Opinião, com as histórias sobre o grupo de teatro surgido em 1964 e que influenciou a arte brasileira

Por Agencia Estado
Atualização:

A história do Teatro Opinião, grupo surgido em 1964, no Rio, que influenciou a arte brasileira desde então, é envolta em lendas. Os artistas que participaram do espetáculo inicial, que lhe deu nome, fizeram sucesso imediato, mas há poucos registros de como tudo chegou aos palcos e do que aconteceu depois. Para corrigir a falha, a dramaturga Maria Helena Kuhner e a jornalista Helena Rocha lançam nesta quarta-feira, no Planetário da Gávea, o livro Para Ter Opinião, co-edição da prefeitura do Rio e da editora Relume Dumará. O livro foge à mera descrição cronológica, mas é preciso nas datas e fatos. Para isso, as duas Helenas se dividiram: a jornalista pesquisou e colheu depoimentos e a dramaturga buscou na memória e os subsídios para um texto que lembra um recital ou o roteiro de um espetáculo como Opinião. "Mostramos o que ocorria na época, os depoimentos dos envolvidos e finalmente nossas experiências", adianta Maria Helena Kuhner que, na época era universitária e dava os primeiros passos em teatro. Para sua geração, o show Opinião foi uma ruptura radical. Surpreendeu e seduziu quem ia ver e ouvir uma garota da zona sul, um imigrante nordestino e um sambista favelado contarem suas histórias. E o mais fascinante é que Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia, que estreou profissionalmente aí), João do Vale e Zé Kéti eram, na vida real esses personagens. A direção era de Augusto Boal, que alinhavava seu Teatro do Oprimido e os textos de Giafrancesco Guarnieri, até hoje um de nossos principais atores e autores. Mesmo com esse elenco, não há muitos dados sobre o Opinião, que durou como grupo de teatro até o início dos anos 80. "Todos falam do Arena e do Oficina, de São Paulo, e esquecem do Opinião aqui no Rio", corrige Maria Helena. "O João das Neves, o último diretor, se entristecia. Entregou-me uns recortes de jornais e pediu que contássemos essa história. A pesquisa começou daí." Foi tão envolvente que resultou na idéia de uma remontagem em 2002, atualizada e com Joyce no lugar de Nara/Bethânia, Noca da Portela substituindo Zé Kéti e um nordestino, ainda não escolhido, como João do Vale. A direção será de Boal e a prefeitura, através da Rioarte, prometeu pagar parte dos custos. "Os fatos sociais e políticos levantados pelo ´Opinião´ perduraram ou se agravaram. É nossa questão no livro: o que esse espetáculo tem a nos dizer hoje", ressalta Maria Helena. "O público quer saber o que lota os espetáculos que vão além do mero entretenimento." Ela não atribui só ao Opinião a forma despojada de representar que predominou desde então. "Foi um momento comum a vários países da América Latina. Queríamos falar da realidade, lutar por idéias no palco", lembra Maria Helena, que, nos anos 70, foi pioneira ao levar teatro para fábricas, favelas e presídios. "Atualmente, o teatro, especialmente no Rio, perdeu um pouco dessa conotação de pensar o mundo. Mas a história do Opinião, perdura até hoje."

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