Livro documenta história da Estação Júlio Prestes

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Por Agencia Estado
Atualização:

A trajetória da construção à recuperação da Estação Júlio Prestes já não corre tanto risco de ser relegada ao esquecimento, como a maior parte da história dos grandes projetos arquitetônicos da cidade. O livro Sala São Paulo - Café, Ferrovia e a Metrópole (R$ 69,00, à venda nas principais livrarias), com coordenação editorial do historiador José Roberto Walker, será lançado hoje, às 20h30, na própria estação, na Sala São Paulo. É uma longa história, desde que a estação começou a ser erguida como símbolo da opulência econômica do Estado, no auge da cultura cafeeira, passando pelo declínio a partir da crise de 29, o longo abandono até o restauro e a remodelação em 1999, quando nasce a sala de concertos São Paulo, no grande hall da estação. Trata-se do segundo livro de uma série que pretende facilitar ao público leigo o acesso à história de sua cidade, partindo do viés arquitetônico. O primeiro foi Theatro São Pedro - Resistência e Preservação, publicado no ano passado, pela Retrato Imaginário Publicidade e Comunicação, comandada por Walker. Patrocinado pelas empresas Acciona, Ford e Spenco, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado, o novo livro é uma requintada encadernação em grande formato, com 232 páginas e dezenas de fotos antigas, como as do pioneiro Militão Augusto de Azevedo, em 1860, e recentes, como o ensaio de Iatã Cannabrava sobre a sala durante e depois do restauro. Para facilitar a consulta e demarcar as fases dessa trajetória, o livro foi dividido em seis capítulos: As Origens da Metrópole, O Café e a Ferrovia, A Estrada de Ferro Sorocabana, Estação Júlio Prestes, A Grande Transformação e Sala São Paulo. Nos primeiros capítulos, o leitor enfronha-se nos trilhos da história socioeconômica de São Paulo; nos três últimos, dá-se margem à construção da estação e aos pormenores que relegaram-na ao abandono entre os anos 60 e 80, e postumamente lançada ao resgate elegante que devolve-lhe o status de grande estação, interagindo com as manifestações culturais. "É incrível como os paulistanos não reconhecem na cidade as marcas do passado", lamenta Walker. "É diferente do que acontece com o sentimento da população de outras capitais, como Salvador e Rio, por exemplo, em que existe relação afetiva com a cidade." A inexistência de um "princípio de territorialidade" por parte da população paulistana tem indubitavelmente mais do que uma causa, mas um possível agravador poderia ser creditado, segundo o coordenador do projeto, à rapidez com que a paisagem local se transforma, fruto das sucessivas construções e demolições, que não pouparam nem o centro velho da cidade. Pioneirismo - Talvez o pressentimento de que a paisagem paulistana se modificaria ao ritmo de um trem descarrilado já atravessasse a alma de um dos pioneiros da fotografia no Brasil, Militão Augusto de Azevedo. O livro mostra imagens inéditas do fotógrafo, totalmente restauradas, que remontam à década de 1860. Ele era um bom exemplo de peregrinador. Por suas lentes vê-se, por exemplo, o porto de Santos, em 1860; cinco anos mais tarde, homens trabalhando na construção dos 146 quilômetros de ferrovias da "Inglesa", a SP Railway Company. Outro dos destaques do livro é o ensaio fotográfico da Sala São Paulo, de Iatã Cannabrava, produzido a partir de 1999. Iatã é especialista em fotografia de arquitetura e urbanismo, com mais de 30 exposições no Brasil e no Exterior. A edição compõe-se também de primores como as ilustrações do caricaturista Ângelo Agostini, que retratou para o jornal O Diabo Coxo a desastrada inauguração da estrada de ferro no Brasil, em 1865, quando os vagões descarrilaram, jogando por terra os convidados. Entre os acervos iconográficos pesquisados para o livro, realizada em um ano de meio de trabalho, Walker destaca os da Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo, do Instituto Moreira Salles, do Museu Paulista (Museu do Ipiranga), do Arquivo do Estado e da Agência Estado. Walker já tem olhos voltados para o próximo projeto editorial: a história da Hospedaria dos Imigrantes, no Bom Retiro (desativada nos anos 60), que serviu como base de chegada nos primórdios do século passado às populações de diversas partes do mundo. Sala São Paulo - Café, Ferrovia e a Metrópole. Coordenação Editorial de José Roberto Walker. Projeto Editorial Retrato Imaginário, Publicidade e Comunicação. 232 páginas. R$ 69,00. Hoje (quarta), às 20h30. Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, s/n.º, tel. 3337-5414. Hoje, às 20h30.

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