'Livro de Ouro' é exposto em Assunção com registros da Guerra do Paraguai

Obra registra contribuição de mulheres da elite paraguaia, que doaram joias e relíquias para financiar tropas contra Brasil, Argentina e Uruguai no século XIX

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Por Redação
Atualização:

O "Livro de Ouro" expõe pela primeira vez ao público paraguaio os seus registros, os das mulheres que recolheram joias e pedras preciosas para suportar o peso da Guerra do Paraguai, também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), um pedaço de história que tinha permanecido no Palácio de Governo do Paraguai desde que foi devolvido pelo Brasil em 1973.

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Agora, o livro está no Arquivo Nacional, um dos mais valiosos do Rio da Prata e onde está exposto à população, de maneira excepcional, nestes dias e por ocasião da Semana da Cultura.

O livro, de 10,5 quilogramas de peso, e sua caixa com gravações em ouro estão sendo exibidos conjuntamente com quatro volumes grossos nos quais figuram os nomes das mais de 700 mulheres paraguaias que em 1867 recolheram essas relíquias para sua entrega ao então presidente do país, o marechal Francisco Solano López.

Essas identidades que estão nos volumes foram, pouco tempo depois, resumidas no "Livro de Ouro", que foi entregue ao vice-presidente Francisco Sánchez, já que o marechal estava em uma das frentes desta guerra, na qual o Paraguai lutou contra a aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai.

O diretor do Arquivo Nacional, Vicente Arrúa, disse à Agência Efe que o livro chegou finalmente às mãos do marechal e que este o teve até a sua morte, em 1870, nas montanhas de Cerro Corá, quando foi abatido por tropas brasileiras.

Com o marechal estava a sua companheira, a irlandesa Elisa Lynch, que teve o livro confiscado pelas tropas brasileiras, que o levaram ao país como troféu de guerra, até que o mesmo foi repatriado em 1975.

Arrúa afirmou que o livro guarda mistérios como o da sua própria manufatura, por amanuenses e ourives desconhecidos, ou sobre o paradeiro das joias que foram doadas por essas mulheres.

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"Tem uma importância fundamental para o povo porque responde a uma forma de expressão num momento tão difícil que foi essa guerra, que foi a guerra mais sangrenta no século XIX na América do Sul."

Nesse sentido, sua teoria é que a coleta de joias teve uma conotação mais simbólica, já que era impossível comprar armas com essas joias devido ao bloqueio, e também de união nacional, através dessas mulheres de classe alta que quiseram contribuir para o país em tempos de guerra.

"Foram mulheres de famílias importantes, pertencentes a uma classe social específica. Mas todas as mulheres paraguaias, também as de classe baixa, forneceram ao exército os seus filhos, os seus esposos e o seu trabalho no campo", disse Arrúa.

O diretor do Arquivo Nacional lembrou que milhares de mulheres se reuniram em Assunção em 24 de fevereiro de 1867, a primeira assembleia de mulheres das Américas, e na qual foi decidida a coleta e doação de joias e relíquias para a causa nacional.

Essa assembleia se repetiu em outras cidades do Paraguai até que foi finalizada a coleta que ficou registrada no "Livro de Ouro", que já foi digitalizado para que os historiadores descubram todos os seus enigmas.

"Esperamos que possam ser abordados novos temas e novas perspectivas dessa participação feminina", disse Arrúa.

Durante a guerra contra a Tríplice Aliança, o Paraguai perdeu cerca de metade de sua população, com uma relação de quatro mulheres por cada homem, segundo os cálculos mais aceitos pelos historiadores.

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