Livro conta história do Teatro São Pedro

O teatro, desde 1998 palco de concertos e óperas, ganha na próxima quinta um breve registro de sua história: Theatro São Pedro - Resistência e Preservação

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Por Agencia Estado
Atualização:

No anúncio de inauguração do Teatro São Pedro, publicado em 16 de janeiro de 1917, fez-se questão de afirmar que aquele seria um teatro "digno à altura da grande Paulicéia", acrescentando três pontos de exclamação aos dizeres que antecediam a programação. A propaganda tinha razão, até mais do que se poderia imaginar, pois a trajetória do espaço até apresenta algumas das qualidades de São Paulo, mas também expressa muitos de seus defeitos - em especial, o descuido com o seu patrimônio, sendo, portanto, muito digna da cidade que o abriga. O teatro, que desde 1998 é palco, especialmente, de concertos e óperas, ganha na próxima quinta-feira, dia 19, às 20h, um breve registro de sua história: Theatro São Pedro - Resistência e Preservação (o livro, que custa R$ 50, será lançado no próprio espaço, que fica na Rua Barra Funda, 171, São Paulo, tel. 0--11/3666-1030). Trata-se de um livro oficial, bancado pela Secretaria de Estado da Cultura e pela Associação de Amigos do Arquivo do Estado. Seu texto costura alguns fatos relacionados ao espaço a depoimentos de pessoas que participaram da sua história e a fotos que combinam imagens de arquivo com ensaios sobre a restauração. O texto, além de breve, diga-se, apresenta problemas de revisão. O próprio teatro ora recebe o "h", ora não - e o critério de o uso de uma grafia ou de outra não fica claro; Brecht é chamado de Bertold, em vez de Bertolt (pág. 66); e, numa transcrição do anúncio supracitado, ora a grafia é atualizada, ora não (teatro sem o "h" convive com Hygienopolis e Campos Elyseos, nas páginas 18 e 19). Alguns fatos - O surgimento do São Pedro é o resultado de empreendimento do jovem português Manoel Fernandes Lopes. O projeto foi entregue ao italiano Augusto Bernardelli Marchesini e a execução, ao brasileiro Antonio Alves Villares da Silva. A cidade que crescia com a chegada dos imigrantes e com uma primeira onda industrializante também deu origem a "uma onda civilizatória", com a inauguração de diversos espaços dedicados às artes - especialmente ao teatro e ao cinema. É em 1911, por exemplo, que surge o Tetro Municipal. A Barra Funda, cheia de italianos (como prova o título do livro de Alcântara Machado, Brás, Bexiga e Barra Funda), transformou o teatro numa tradicional sala de cinema do bairro. Os operários, cuja presença foi tornando-se cada vez mais forte na área, especialmente com a instalação de fábricas nos anos 20 e 30, formavam o público do cinema, que funcionou ali até 1967. Em outubro de 1967, Fernando Torres e Maurício Segall assumiram o negócio. Entre as peças montadas a partir de então no palco do São Pedro, estão momentos históricos do teatro brasileiro: Santa Maré (1969), de Gianfrancesco Guarnieri, Um Inimigo do Povo (1969), de Ibsen, resposta ao AI-5, Morte e Vida Severina (1969), adaptação do poema de João Cabral de Melo Neto com música de Chico Buarque, Macunaíma (1978), adaptação da rapsódia de Mário de Andrade por Antunes Filho, Ópera do Malandro (1979), de Chico Buarque. A partir de 1982, o teatro passa a ser administrado por Henrique Suster, que o mantém funcionando precariamente até 1983. Só em 1987, o Estado decretaria sua desapropriação, assumindo o controle do espaço e a responsabilidade por sua restauração. Entre essa decisão e a restauração propriamente dita, passaram-se mais 11 anos. A obra foi concluída apenas em 1998. "Um teatro que já foi um teatro e que voltou a sê-lo é a constatação de que nem tudo está perdido neste mundo de agressividades tecnológicas", afirma Gianni Ratto, em depoimento que consta do livro. "Fiz muitos trabalhos lá, onde a minha carreira não foi beneficiada, exatamente porque a preocupação estava na escolha dos textos e não na de papéis para mim. Disso eu não me arrependo, era o momento, era o que se precisava fazer naquele instante e eu tenho muito orgulho de ter contribuído para que um teatro de São Paulo, da importância deste, tenha tido uma função de resistência durante a ditadura, enquanto Maurício Segall e eu estávamos lá", registra Beatriz Segall. O que se espera, agora, é que o teatro tenha uma história menos turbulenta.

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