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Livro "Cidade de Deus" tem nova edição

A obra que colocou o mundo das periferias no centro do debate literário, ganha, agora, uma nova edição, "mais rápida e mais densa", nas palavras de seu autor, Paulo Lins

Por Agencia Estado
Atualização:

Lançado em 1997, Cidade de Deus foi um marco, saudado pelo crítico Roberto Schwarcz como "uma aventura artística fora do comum". A obra que colocou o mundo das periferias no centro do debate literário, ganha, agora, uma nova edição, "mais rápida e mais densa", nas palavras de seu autor, Paulo Lins. "Procurei tirar a monotonia e algumas repetições da história", explica Lins. "Também tinha coisas que eu não gostava e mudei." A nova edição ficou com 404 páginas (R$ 34), 150 a menos que a antiga. Mas essa não é uma conta exata, porque também a forma e o tamanho das letras utilizadas pela Companhia das Letras mudaram. "Acho que o leitor não vai perder nada com o novo livro", defende o autor. Uma das mudanças mais perceptíveis da nova versão é no nome dos protagonistas. Zé Pequeno virou Zé Miúdo, Bené virou Pardalzinho e Cabeleira, Inferninho. "Quis manter a distância entre a literatura e o cinema", conta Lins, que temia que a hiperexposição do filme acabasse por "contaminar" seu livro: "É para alertar as pessoas de que livro é uma coisa, e filme é outra." O autor do livro defende que "literatura é uma coisa mais reservada": não quer que as pessoas procurem no livro o que viram no filme nem que procurem no filme o que lerem. Apesar dessa posição "defensiva", Lins afirma que as duas versões estão relativamente próximas do filme de Fernando Meirelles, que estréia hoje. "Tanto uma quanto a outra mantêm a idéia de um mundo fechado, sem saídas, sem fronteiras." Na sua opinião, Meirelles e Nando Olival, produtor do filme, conseguiram "manter o olhar interno da favela, apesar de serem dois paulistas, brancos, burgueses e publicitários", porque são "artistas". "Quando vendi os direitos do livro, me questionaram sobre isso; disse que venderia até para um francês, se ele fosse um artista." O autor conta que, quando estava escrevendo Cidade de Deus, achava que o assunto do livro "estava saindo da pauta". "Mas a situação se agravou, ela está na ordem do dia, inclusive na pauta dos candidatos nessas eleições." Hoje, Lins não está sozinho como "porta-voz" literário da periferia. Em São Paulo, por exemplo, tem a companhia de Ferréz, autor de Capão Pecado (Labortexto). A revista Caros Amigos já lançou duas edições destinadas à literatura chamada marginal. "A segregação e o preconceito já se manifestavam nas artes, a grande novidade é que o ´gueto´ está produzindo literatura; isso é resultado da urgência de nossos dias, há uma necessidade de expressão por todos os canais, todos os meios."

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