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Livro aborda presença do futebol no cinema brasileiro

Fome de Bola, do crítico de cinema e colunista esportivo do Estado Luiz Zanin Oricchio, mostra a rica trajetória entre as duas artes no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando comentou com João Moreira Salles (cineasta e também apaixonado pelo esporte) seu desejo de escrever um livro sobre a presença do futebol no cinema brasileiro, o crítico de cinema e colunista esportivo do Estado Luiz Zanin Oricchio ouviu, como resposta, um sorriso e um comentário irônico: seria o mesmo que fazer uma pesquisa sobre as escolas de samba de Tóquio, tão pobre seria o material disponível. De fato, rezava a lenda que a relação entre as duas artes resumia-se a um punhado de exemplos. Determinado, Oricchio derrubou o mito e escreveu Fome de Bola - Cinema e Futebol no Brasil (Imprensa Oficial), que será lançado hoje, às 19 horas, no Reserva Cultural, inaugurando a livraria do charmoso espaço. Trata-se de um trabalho de fôlego - aos que acreditavam que o cinema só se preocupara com o esporte das multidões em belos filmes como Garrincha, Alegria do Povo, de Joaquim Pedro de Andrade, ou Boleiros, de Ugo Giorgetti, Zanin debruçou-se sobre um material de pesquisa pouco conhecido para mostrar que o futebol interessou, sim, ao cinema e desde os primeiros tempos. Coincidência ou não, as duas artes chegaram ao Brasil quase simultaneamente. Em abril de 1895, segundo os historiadores, nascia o futebol brasileiro e, no ano seguinte, um aparelho que mostrava imagens em movimento atraía a atenção de curiosos, no Rio de Janeiro. Ambos chegaram pelas mãos de estrangeiros e caíram no gosto popular, com adeptos ferrenhos e apaixonados. E ambos também agora são atividades planetárias, interessando bilhões de pessoas e movimentando fortunas em negócios. Em sua pesquisa, Oricchio teve acesso a um verdadeiro tesouro: o primeiro levantamento dos filmes sobre futebol organizado por Antônio Leão da Silva Neto, autor de Dicionário de Filmes Brasileiros. O suficiente para constatar que diversos filmes, médios e curtos, foram realizados sobre o esporte no início do século passado mas que, infelizmente, não sobrou nenhum vestígio deles. Mesmo assim, Oricchio rastreou alguns exemplares da época, como Campeão do Futebol (1931), única incursão na direção do cômico Genésio Arruda. Ou ainda Futebol em Família (1938), de Ruy Costa, sobre um rapaz que briga com o pai que não quer que ele siga a carreira de jogador. "O cinema registrou as principais fases da história do futebol brasileiro", acredita Oricchio. Como em uma partida tradicional, Fome de Bola é dividido em dois tempos. No primeiro, traz pesquisa e análise das obras cinematográficas brasileiras sobre o tema. No segundo tempo, Oricchio apresenta seis entrevistas com diretores de cinema contemporâneos que se dedicaram ao futebol em algum momento de suas carreiras: além de João Moreira Salles (trilogia Futebol), há também Ugo Giorgetti (Boleiros 1 e 2), Maurice Capovilla (Subterrâneos do Futebol), Oswaldo Caldeira (Passe Livre, Futebol Total e Brasil Bom de Bola), Djalma Limongi Batista (Asa Branca - Um Sonho Brasileiro) e Luiz Carlos Barreto (Isto É Pelé). Ao longo de sua trajetória, cinema e futebol mantêm relações que se estreitam em períodos descontínuos - trajetórias que seguem juntas, mas não paralelas. As fases de euforia, curiosamente, são simultâneas, como na época dos dois primeiros títulos da seleção brasileira (1958 e 62) coincidindo com a era de Juscelino Kubitschek no poder, quando o cinema viveu uma fase áurea. E o livro se encerra com uma extensa filmografia que abarca quase 100 anos de história cinematográfica do Brasil, com registros de partidas nacionais e internacionais . Trecho Pelé foi recebido por reis, rainhas, presidentes e ditadores. Uma guerra foi parada para que o vissem jogar. Conquistou 53 títulos em 22 anos como profissional, entre 1956 e 1977 (contando os três anos pelo Cosmos). Cinco vezes campeão do mundo, três pela seleção, duas pelo Santos, fez 1.281 gols em sua carreira, sendo 1.091 pelo Santos e 95 pela seleção. Uma trajetória superlativa como essa merecia um filme tão completo quanto possível e esse filme é Pelé Eterno, de Aníbal Massaini. As diferenças em relação ao outro documentário consagrado ao craque - Isto é Pelé, de Luiz Carlos Barreto e Lauro Escorel - são muitas. Afinal Isto é Pelé foi feito em 1974, no momento em que se encerrava a carreira do astro. E foi filme feito no calor dessa emoção, como atestam as imagens do jogo de despedida da seleção, no Maracanã, com a torcida inteira gritando "fica, fica". Mais de 30 anos separam um filme do outro. Por isso, o de Aníbal é bem mais completo no que diz respeito à coleta de gols. Entre parênteses: os gols de Pelé, os mais conhecidos, são como peças de antologia, como standards da música, clássicos, e por isso repetidos à exaustão. É o caso do gol contra o País de Gales, na Copa de 1958. Fome de Bola - Cinema e Futebol no Brasil. De LuizZanin Oricchio. ImprensaOficial. R$ 9. Livraria Lima Barreto/ Reserva Cultural.Avenida Paulista, 900, 3287-7858. Hoje, 18h30

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