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Litoral norte tem centro cultural para o menor carente

Projeto da empresária e atriz Ruth Escobar, o Centro Cultural o Menino e o Mar complementa formação de crianças e adolescentes ensinando arte e cidadania

Por Agencia Estado
Atualização:

Encravado em uma pequena cidade, Ubatumirim, próxima a Ubatuba, funciona o Centro Cultural o Menino e o Mar, um espaço criado pela empresária e atriz Ruth Escobar para atender crianças e adolescentes carentes da região. O projeto leva assinatura de Ruy Ohtake. O Centro Cultural o Menino e o Mar, segundo diz Ruth, é a concretização de um antigo sonho. "Esse projeto está na minha cabeça há muitos, muitos anos. Desde o final dos anos 60 desenvolvo atividades com comunidades carentes. Participei de ações em favelas, o objetivo era levar o teatro para crianças e também trabalhava com mulheres que eram espancadas por seus maridos", diz. "Depois fiz um trabalho na Penitenciária do Estado. Acabei sendo expulsa de lá, isso em 1979, 1980, porque queríamos desenvolver uma consciência política entre os presos e seus familiares, para que eles denunciassem os maus tratos sofridos ali. Depois comecei a produzir muito e não tinha mais espaço para essas atividades. Sempre nutri um desejo de fazer atividades culturais com crianças", diz a empresária, que também tem uma opinião controversa sobre o assunto. "Eu tinha consciência de que educação, sem ideologia, pode ser direcionada para o nazismo." O projeto ficou engavetado por um longo período, até um episódio crucial na vida de Ruth Escobar: quando foi esfaqueada em Paris. "Não tive medo da morte, tinha um sentimento de frustração - não havia acabado de fazer o que tinha que fazer aqui. Não posso ir embora, tinha a determinação de que se escapasse com vida faria um trabalho com crianças". Quando chegou ao Brasil lembrou-se de um terreno que havia comprado e resolveu começar suas atividades por ali. O terreno fica a 20 minutos de Ubatuba, em uma região preservada, repleta de verde, próxima ao mar, onde as crianças ficam em contato direto com a natureza. "Queria fazer um projeto em um local bonito, por isso convidei Ruy Ohtake para desenvolver um projeto, que ficou muito bonito. Não queríamos fazer algo apenas voltado para a educação; a proposta vai além, dá uma base cultural às crianças, ajuda a entrar em contato com outro espaço, desenvolve sensibilidade, amplia as referências. O instituto faz uma complementação para as crianças." No pequeno paraíso de Mata Atlântica a garotada recebe orientação sobre a utilização dos recursos naturais. Um dos braços da atuação do Centro Cultural é a reciclagem. Cerca de 120 crianças recebem orientação sobre a importância da reutilização do lixo e aprimoram sua consciência ecológica. "No período de alta temporada eles saíram percorrendo a praia, recolhendo objetos jogados na areia e distribuindo saquinhos. Ao chegarem, elaboraram um totem de quase 3 metros de altura, logo na entrada", conta a empresária. Música - Os integrantes do Centro Cultural o Menino e o Mar já formaram uma orquestra de violões e rabecas. A moçada não apenas aprendeu a tocar os instrumentos, como também a construí-los. Um luthier da região, Ricardo Nunes, ensina o ofício de fabricar rabecas. As crianças já fizeram sete. E também participam de uma pequena orquestra e coral. As crianças assistem a aulas de teatro, dança e expressão corporal. A aula de congada é ministrada pelo mestre Benedito Fernandes e seu Sebastião. O fandango, uma expressão que carrega influência da cultura portuguesa no Brasil, é ensinada por mestre Orlando Antonio de Oliveira. Oficinas de cerâmica, ornamentos, cestarias e máscaras, entalhe em madeira, aulas de costura e o restaurante-escola formam artesãos e profissionais. Uma pousada-escola está em fase final de construção para oferecer cursos de treinamento em serviços de hotelaria. Os meninos também têm a disposição uma oficina que engloba atividades para a produção e realização de espetáculos. "Uma forma profissionalizante ligada ao ser infinito, criança, que jamais imaginou que poderia criar, fazer, modificar", teoriza a empresária. Um ônibus fica à disposição do Centro para trazer crianças na parte da manhã e levá-las à escola. No período em que estão, no instituto, adolescentes e crianças recebem almoço. De acordo com Ruth Escobar, o projeto, que nasceu há dois anos, já começou a dar frutos. "Crianças já se apresentaram na rádio local, pelo menos umas quatro vezes; agora irão a clubes para apresentação na Festa do Divino. Eles estão se sentindo capazes e transmitindo uma visão diferente para a cidade. As pessoas podem evoluir e adquirir uma nova perspectiva de vida, uma bagagem que permite um olhar diferenciado do mundo". A perspectiva da diretora é promover uma exposição com aquilo que as crianças produziram em cerca de três meses. "É difícil levar pessoas para Ubatumirim. Estamos em fase de negociação com o governo do Estado para apresentar o projeto na capital. Um outro passo importante é envolver a comunidade com o projeto."

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