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Palco, plateia e coxia

'Litoral', da Cia Hiato, terá Brasil Colônia como tema

Projeto vai buscar em histórias pessoais, o material necessário para falar sobre o processo de colonização

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Por João Wady Cury
Atualização:

Entrevista com: Leonardo Moreira, diretor da Cia Hiato O processo começou, a peça tem nome, Litoral, e deverá ser uma grande produção sobre o Brasil no período de 1500 a 1600. Justamente o período que coincide ao da vida, do outro lado do oceano, do bom e velho Will Shakespeare (1564-1616). 

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A estreia de Litoral deve ocorrer no ano que vem, como diz Leonardo Moreira, diretor da Cia Hiato. Ele está empolgado, mas, ao mesmo tempo, temeroso. Não quer pensar no futuro, por conta das últimas notícias de censura de peças por órgãos federais como a Funarte e a Caixa Econômica Federal. Talvez justamente por isso Litoral se concretize com apoio internacional.

Nascido em Areado, pequena cidade do sul de Minas Gerais com 15 mil habitantes, Moreira chegou a São Paulo com 18 anos, estudou Artes Cênicas na USP e depois concluiu o mestrado. 

É um dos diretores teatrais mais talentosos de sua geração. 

Suas montagens são ao mesmo tempo contundentes e tocantes, a exemplo de Odisseia, Quarto 19 e O Jardim. Nesta entrevista, fala sobre teatro, claro, novela e o Brasil de hoje. 

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O que é Litoral? 

É um projeto grande, queremos falar sobre nossa história. Voltei a estudar a História do Brasil com foco no processo de colonização. A ideia é abordar a partir de nossas histórias pessoais, trazendo nossos sobrenomes, das nossas famílias, nossa ascendência. E também como a gente é responsável pela normalização da escravidão de negros e indígenas, um processo muito violento, tendo a religião como estratégia para escravizar pessoas, como o País foi formado com base nos valores da usurpação de terras, de roubos, devastação – sempre pegando o viés biográfico de cada um da companhia. 

Quais suas inspirações?

O quadro Navio de Imigrantes, que Lasar Segall pintou baseado em sua viagem de vinda ao Brasil. É gigante e com várias cenas que acontecem simultaneamente e, em todas, há o rosto da mesma mulher. Também a escritora canadense Alice Munro (Nobel em 2013) é uma inspiração. Pegou documentos de sua genealogia, de seus avós e bisavós, e escreveu um romance biográfico, mas preenchendo as lacunas existentes com ficção. É lindo.

Como vê o momento atual no País?

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Emocionalmente estou num momento de apocalipse, muito pessimista. Mas não é real. E não tenho que incentivar essa posição derrotista. Só não me peça para dizer como vai ser o futuro.

Como vai ser o futuro? Não me sinto pronto, estudado o suficiente para falar sobre isso. Mas certamente é o momento de continuar fazendo, temos que continuar fazendo.

Como é escrever novela?

É o meu segundo trabalho na Globo. Sou colaborador na equipe da Licia Manzo para a novela das nove que estreia em 2020 (Em Seu Lugar, que se seguirá a Amor de Mãe, cuja estreia será em novembro). É uma experiência diferente, uma oportunidade de ampliar a comunicação e atingir milhões. É bom estar ali dentro e falar sobre as coisas em que acredito. 

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