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Literatura gaúcha já tem sua casa

O Centro Cultural Érico Veríssimo foi inaugurado em Porto Alegre reunindo o acervo do autor de O Tempo e o Vento e de outros nove escritores gaúchos, entre os quais o poeta Mário Quintana

Por Agencia Estado
Atualização:

Quase três décadas depois de perderem a companhia do escritor Érico Veríssimo na Rua dos Andradas, que preferem chamar de Rua da Praia, os gaúchos, visitantes, turistas e pesquisadores, voltam a conviver com um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, pelo menos nas lembranças e no culto à memória do autor de O Tempo e o Vento. O acervo literário, a biblioteca, os originais, objetos pessoais, fotos e textos que recontam a vida de Veríssimo estão à disposição do público no Centro Cultural Érico Veríssimo, inaugurado na última terça-feira, no histórico edifício Força e Luz, a uma quadra da Livraria do Globo, onde ele trabalhou durante a maior parte da vida. Além de homenagear o escritor, o centro cultural nasce com a pretensão de ser a casa da literatura gaúcha, avisa o primeiro diretor, Marcelo Menna Barreto. O prédio de seis andares, em estilo eclético, abriga também os acervos dos escritores Mário Quintana, Josué Guimarães, Reynaldo Moura, Pedro Escosteguy, Zeferino Brasil, Dyonélio Machado, Francisco Fernandes, Lila Ripoll e Manuelito de Ornellas. "Vamos guardar os originais, assim como os britânicos guardam manuscritos de Shakespeare", diz a professora Maria da Glória Bordini, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, satisfeita por tornar disponível ao público o resultado de 20 anos de pesquisas feitas com uma equipe e diversos bolsistas. O Centro Cultural Érico Verissimo conta com livraria, arquivos com os acervos de cada um dos homenageados, auditório, salas de leitura e de exposições, laboratório de restauração e um café. A biblioteca exibe diversas traduções de autores gaúchos. No prédio também funciona o Museu da Eletricidade do Rio Grande do Sul (Mergs), com 2 mil peças que contam a história da geração, transmissão e consumo de energia elétrica no Estado. O Edifício Força e Luz foi construído entre 1926 e 1928 e ocupado em 1929 pela Companhia Força e Luz Porto-Alegrense. Em 1994, foi tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico. A Companhia Estadual de Energia Elétrica (Ceee), atual proprietária, investiu R$ 4,4 milhões na restauração, que ficou pronta em apenas seis meses, para transformar o edifício no novo centro cultural de Porto Alegre. A estatal ofereceu o prédio e a PUC tornou disponível o acervo, num convênio que terá duração de cinco anos e poderá ser renovado infinitas vezes. "Cultura é como energia elétrica; quanto mais temos, mais crescemos", compara o presidente da Ceee, Vicente Rauber. Veríssimo nasceu em 17 de dezembro de 1905 em Cruz Alta, na região missioneira do Rio Grande do Sul, e morreu de enfarte, na capital gaúcha, em 28 de novembro de 1975. Em 1929, publicou seu primeiro conto, Ladrões de Gado, na Revista do Globo, para a qual passaria a trabalhar em 1930, quando se mudou para a capital. Entre seus grandes sucessos estão Clarissa (1933), Olhai os Lírios do Campo (1938) e Incidente em Antares (1971), além da trilogia O Tempo e o Vento (1949/51/62). O cronista e escritor Luís Fernando Veríssimo, do Estado, participou da concepção e execução do projeto e confessa que tinha o sonho de tornar disponível o acervo do pai a todos os interessados e de ter acesso aos de outros escritores no centro político e cultural do Rio Grande do Sul. A "casa da literatura gaúcha" está a três quadras da Assembléia Legislativa e da sede do governo do Estado e a duas da prefeitura de Porto Alegre. Também fica no chamado "corredor cultural" de Porto Alegre, tendo como vizinhos o Santander Cultural, o Memorial do Estado, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul e a Casa de Cultura Mário Quintana.

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