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Literatura de Tabajara Ruas ganha as telas

Escritor que assina o filme Netto Perde Sua Alma com Beto Souza, prepara roteiro inspirado no amor do casal Garibaldi e terá toda sua obra relançada nacionalmente pela Record

Por Agencia Estado
Atualização:

Ele é um artista multimídia. Romancista, folhetinista, diretor de cinema. Tabajara Ruas vive na capital catarinense, numa casa cinematográfica debruçada sobre a Lagoa da Conceição. Trabalha num escritório que se abre para um dos cartões-postais mais bonitos do Brasil. Ruas prepara o lançamento do filme que co-realizou (com Beto Souza), Netto Perde Sua Alma. A estréia já ocorreu no Sul. Capta para promover o lançamento no centro do País. Simultaneamente, escreve o roteiro do novo filme, inspirado no amor de Giuseppe Garibaldi e da jovem Anita. E saboreia o que não deixa de ser um triunfo. Ruas teve, até aqui, sua obra publicada por editoras gaúchas. Agora, a Record está lançando a totalidade da obra do escritor. Seus seis romances incluem títulos como A Região Submersa, Netto Perde Sua Alma, Os Varões Assinalados e Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierrez - escolhido por numerosos críticos como uma das obras-primas da literatura produzida no Rio Grande. Justamente Os Varões e Juvêncio Gutierrez são os títulos que ainda faltam sair pela Record. Os outros já estão disponíveis. Entre eles, dois sairão este ano em Portugal: A Região Submersa, que será uma reedição, e O Fascínio. A biografia de Taba, como é conhecido, daria um livro possivelmente tão movimentado como os que escreveu. Estudante de Arquitetura, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, teve de fugir do País ao entrar na mira da repressão do regime militar. Foi primeiro para o Chile de Salvador Allende. Com a derrubada do presidente chileno, asilou-se na Europa, mais exatamente na Dinamarca, onde realizou um antigo sonho e cursou a faculdade de cinema. Foi roteirista em Portugal e lá lançou "A Região Submersa". Com a anistia, voltou ao Brasil e desenvolveu a carreira de escritor - agora também cineasta - que lhe deu projeção. No Sul é considerado um grande autor. A reedição de sua obra pela Record talvez amplie o círculo de admiradores. Taba poderá ser reconhecido no Brasil inteiro como um dos grandes escritores do País, na atualidade. Alguns de seus livros mais conhecidos tratam de temas épicos. A história do General Antônio Netto atravessa as guerras Cisplatina, dos Farrapos e do Paraguai. Os Varões Assinalados trata da Guerra dos Farrapos, episódio também conhecido como Revolução Farroupilha, um dos mais polêmicos da história do Estado, quando os gaúchos do século 19 fundaram a República Rio-Grandense, tentando emancipar o Rio Grande do Sul do Brasil imperial. Luiz Fernando Verissimo é um dos maiores admiradores de Taba. Elogia não apenas seus dotes de narrador, mas também a acuidade da visão crítica. Os livros de Taba mostram o reverso da grande História, mesmo quando tratam dessas figuras que fazem parte da lenda - Netto, Bento Gonçalves, Garibaldi. Ao receber a reportagem em sua casa, Taba estava no computador. Contou que trabalhava num roteiro original - sobre um grupo de mulheres durante os anos de chumbo da ditadura - quando recebeu o convite dos produtores Rubens Gennaro e Virgínia Moraes, donos da Laz Audiovisual, uma empresa de Curitiba. A Laz produziu Oriundi, o filme de Ricardo Bravo que trouxe ao Brasil o veterano Anthony Quinn. Não foi uma experiência bem-sucedida. O filme, fraco, decepcionou na bilheteria, mas não desanimou a dupla de produtores. Eles começaram a captar para uma série de TV baseada na mítica Anita Garibaldi, a heroína de dois mundos, que ligou seu nome às histórias do Brasil e da Itália. Resolveram transformar a série num produto para cinema e chamaram Taba. "Não podia recusar um convite desses: os personagens são fascinantes, há um produtor para tratar dos assuntos de dinheiro, vou poder me concentrar só nos problemas da direção. Como dizer não?", explica. Assim como se voltou para a República Rio-Grandense em Netto, Taba vai tratar agora da República Juliana, que durou pouco mais de cem dias, quando os farroupilhas ocuparam Laguna, em Santa Catarina, em busca de uma saída para o mar. Será uma história de amor. O aventureiro italiano Giuseppe Garibaldi, de 27 anos, apaixona-se pela lagunense de 18, que larga do marido para segui-lo. "Devia ser uma mulher extraordinária", diz Taba. "Fazer uma coisa dessas há 150 anos era impensável numa sociedade patriarcal." Taba sonha com uma atriz jovem e bonita para o filme que deve rodar este ano, possivelmente no começo do segundo semestre. E espera, graças a uma parceria com os italianos - Anita é idolatrada na Itália -, conseguir um ator jovem que se disponha a viajar ao Brasil para fazer, por pouco dinheiro, o estrangeiro que a seduziu. Garibaldi foi personagem de numerosos filmes produzidos na Itália. "É uma daquelas figuras maiores que a vida", define. "Acho que não será difícil conseguir um ator talentoso e, de preferência, não muito conhecido no Brasil, para fazer o papel."

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