Literatura brasileira brilha no México

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Por Agencia Estado
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A Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara terminou hoje com saldo positivo para os editores e escritores brasileiros. O Brasil é o país homenageado da 15ª edição da FIL e, como o desconhecimento da literatura brasileira no México é ainda significativo, o evento serviu para divulgar informações e estreitar laços entre os mercados editoriais. Os escritores brasileiros presentes consideraram a recepção do público "calorosa", apesar de problemas de organização, e os editores disseram ter feito contratos e contatos importantes. A grande estrela, no entanto, foi a literatura infanto-juvenil brasileira, responsável pela maior parte das negociações e pelas maiores demonstrações de entusiasmo por parte dos mexicanos. O México não tem tradição em literatura infanto-juvenil e apenas agora desperta para o potencial do setor, confiando na tradução de autores brasileiros para chegar ao público escolar e seguindo seus programas oficiais de leitura. Ziraldo, Ana Maria Machado e Luciana Savaget são alguns autores infanto-juvenis que estiveram na FIL, participando de mesas-redondas e cafés literários. "Nossa literatura infantil é cada vez mais procurada pelos países hispano-americanos", comemora Ana Maria Machado. "Vendemos muito bem e estamos influenciando no surgimento de autores infanto-juvenis nesses países, que, com exceção da Argentina, não têm essa tradição. Nós temos Lobato." Falando em um café literário, Ziraldo comentou o sucesso que seus livros, especialmente "O Menino Maluquinho", fazem no Brasil e no exterior, mas notou que as escolas dos países hispano-americanos hesitam em adotá-los curricularmente. Ziraldo atribuiu o fato ao maior "formalismo" da cultura hispânica, já que o personagem do livro é "travesso e libertário". Foi muito aplaudido. A educadora Elizabeth Serra, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, contou como são feitos trabalhos de distribuição de livros pela rede de ensino brasileira e lembrou que o projeto Rincón de la Lectura, adotado no México, é inspirado no brasileiro Ciranda da Leitura. "O mercado de infanto-juvenis no Brasil é enorme e fundamental e vive um boom atualmente", disse Elizabeth: "Pena que nossa imprensa ainda o divulgue tão pouco." Editores e educadores mexicanos disseram ter "inveja" da força da literatura infantil brasileira. O momento constrangedor ficou por conta do Instituto Paulo Freire, que em duas intervenções fez pouco caso dos avanços da leitura escolar no Brasil. Outros autores brasileiros presentes à FIL foram Zelia Gattai, Nélida Piñon, José Sarney, Carlos Heitor Cony, Eduardo Portela, Antonio Torres, Mario Chamie, Marco Lucchesi, João Almino e Renato Janine Ribeiro. O mais conhecido de todos é, obviamente, Paulo Coelho, que fez homenagem a Jorge Amado e deu entrevistas para incontáveis jornais, revistas e TVs mexicanos - que, de resto, dedicaram espaço quase diário à literatura brasileira, tratando dos autores presentes e também de Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa e Clarice Lispector, além de Rubem Fonseca, também muito conhecido por aqui. Alguns escritores reclamaram da falta de informações sobre a participação brasileira, tiveram problemas com os vôos (Chamie gastou 25 horas para vir de São Paulo a Guadalajara) e não entenderam por que não foram convidados para o almoço de abertura, ao qual compareceu o ministro da Cultura Francisco Weffort e apenas três autores (Zelia, Sarney e Nélida). Outros faltaram, como Fernando Morais e Zuenir Ventura. Exemplares da revista "Poesia Sempre", publicada pela Fundação Biblioteca Nacional, ficaram detidos no aeroporto, o que levou o lançamento do número especial sobre literatura mexicana a ser cancelado e causou conflito entre os editores e a embaixada brasileira. Houve também apresentações de Lenine, Sepultura e Carlinhos Brown, o que fez Torres ironizar declarações de que os escritores brasileiros presentes seriam, com exceção de Coelho, desconhecidos: "Com certeza, os cantores são muito mais conhecidos que nós." Mas a avaliação geral foi de que a literatura brasileira começa a ser um pouco menos desconhecida no México.

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