Leilão de coleção de arte de YSL quebra recordes e desafia crise

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Por JAMES MACKENZIE
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O leilão da monumental coleção de arte de Yves Saint Laurent terminou na quarta-feira depois de quebrar uma sequência de recordes, desafiar o governo chinês e levantar mais de 370 milhões de euros (470 milhões de dólares). Formada ao longo de cinco décadas com seu parceiro, Pierre Bergé, a coleção do falecido estilista já foi descrita como a mais importante coleção de arte em mãos particulares, e o leilão atraiu interesse de colecionadores e espectadores de todo o mundo. O total final de 373,5 milhões de euros superou as estimativas de 300 milhões de euros, mas Bergé, que vai doar toda a receita a organizações de caridade e pesquisas médicas, disse que não se surpreendeu com o sucesso do leilão, mesmo na pior recessão global de muitas décadas. "Apesar de as pessoas me terem dito que eu deveria aguardar dois ou três anos para a crise abrandar, decidi seguir adiante com o leilão, e acho que eu estava certo", disse Bergé, que decidiu vender a coleção após a morte de seu parceiro, no ano passado. "Quando você oferece obras de qualidade aos compradores, os compradores comparecem", disse ele a jornalistas depois de o último de 733 lotes ter sido arrematado em Paris. Na noite final, duas esculturas históricas de bronze pilhadas do Palácio de Verão em Pequim durante as Guerras do Ópio, no século 19, e reivindicadas pela China, foram arrematadas por um total de mais de 31 milhões de euros, bem acima da estimativa de 8 a 10 milhões de euros cada uma. A coleção abrangia desde pinturas do mestre espanhol do século 20 Pablo Picasso até pratarias alemãs do século 17, esculturas da antiguidade romana, bronzes chineses, móveis Art Nouveau e camafeus do século 18. Uma pintura de 1911 do francês Henri Matisse mostrando um vaso de prímulas sobre uma toalha de mesa azul quebrou o recorde de obras de Matisse, sendo arrematada na segunda-feira, o primeiro dia do leilão, por quase 36 milhões de euros e dando o tom para o resto do leilão. Uma das principais peças da coleção, uma tela cubista de Picasso intitulada "Instrumentos Musicais sobre uma Mesa Circular", que tinha sido estimada em entre 25 e 30 milhões de euros, não encontrou comprador. Mas essa foi virtualmente a única decepção. Os colecionadores deixaram de lado o pessimismo que vem envolvendo boa parte da economia global e embarcaram numa orgia de compras que surpreendeu até mesmo os mais otimistas da casa de leilões Christie's. "Este é o maior leilão privado de uma coleção jamais feito, e me parece apropriado que aconteça em Paris", disse o executivo-chefe da Christie's, Edward Dolman. Multidões fizeram filas dando volta de quarteirões, no fim de semana, para ver as obras expostas no Grand Palais de Paris, um recinto de 72 mil metros quadrados ao lado da avenida Champs Elysées, construído para abrigar a Exposição Mundial de 1900. Ajudada por uma campanha publicitária cuidadosamente orquestrada na televisão e em revistas, além da qualidade excepcional das obras à venda, a Christie's conseguiu uma série de preços recordes. Além da tela de Matisse, o leilão incluiu o maior preço já pago por uma escultura do artista romeno Constantin Brancusi - mais de 29 milhões de euros --, além de 21,5 milhões por uma composição abstrata de 1922 do pintor holandês Piet Mondrian. Uma poltrona forrada de couro de 1917-19 da artista irlandesa Eileen Gray foi arrematada por quase 22 milhões de euros, mais de sete vezes o preço inicial estimado, fixando um recorde mundial para um trabalho de arte decorativa do século 20 em leilão. A reivindicação da China de que os bronzes da dinastia Qing do século 18 fossem devolvidos ao país acabou criando controvérsia. Bergé rejeitou o pedido, mas ofereceu entregar as peças se Pequim autorizasse a volta do líder espiritual tibetano exilado, o Dalai Lama.

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