11 de junho de 2010 | 17h15
Chegam ao mercado brasileiro as primeiras traduções feitas a partir do idioma original dos livros Eugênio Oneguin de Alexandr Pushkin e Ressurreição de Liev Tolstói, aristocratas rebeldes que souberam retratar uma nação em turbulência. A tradução da obra de Pushkin é assinada por Dário Moreira de Castro Alves e da de Tolstói é de Rubens Figueiredo.
Eugênio Oneguin - Capítulo Dois
XI
Nesse deserto, com efeito,
Seus dons Eugênio apreciava,
Com a vizinhança era sem jeito,
De seus banquetes não gostava;
De seu rumor ia escapando,
Mesmo se tudo bem marchando.
Falar de feno e mais de vinhos,
Canis, parentes e vizinhos,
Não dava brilho ao sentimento,
Tampouco ardor, fogo poético,
Vivacidade ou senso estético,
Da convivência o bom talento.
Com suas mulheres, não contavam:
Com menos brilho dialogavam.
XII
Porque Lenski é rico e bonito,
Saudado foi qual pretendente:
Assim da terra era o bom rito;
Davam a filha por nubente
Ao meio-russo cidadão.
Ao engajar conversação
Já se alegava, em tom matreiro,
Do tédio que é viver solteiro;
Ao samovar Lenski é chamado
Eis serve Dunya quente o chá;
A ela sussurram: "Dunya, vá!"
Trazem guitarra (quanto enfado),
E a voz em guincho (ó Deus!) mantém:
"Ao meu castelo de ouro vem!"...
XIII
Mas Lenski, é claro, sem vontade
De matrimônio contratar,
Quis com Eugênio na verdade,
Relação íntima travar.
E se achegaram; onda e rocha,
Poema e prosa, gelo e tocha,
Eis não diferem tanto ou mais.
Por divergências naturais
De início os dois não se aceitaram;
Porém depois bem já se davam
Em seus corcéis juntos montavam,
Inseparáveis se tornaram.
E muitos há que amigos são
Só por faltar-lhes outra opção.
Trecho do livro Ressurreição, de Liev Tolstói
Ao conhecer de perto as prisões e as paradas da viagem rumo ao local de deportação, Nekhliúdov se deu conta de que todos aqueles vícios que se desenvolviam entre os prisioneiros: a bebida, o jogo, a crueldade e todos os crimes terríveis cometidos por detentos, e até a antropofagia - não eram acidentes, nem fenômenos de uma degeneração, de um tipo criminoso, de uma monstruosidade, como interpretavam sábios obtusos para agradar ao governo, mas sim a consequência inevitável do erro incompreensível segundo o qual umas pessoas podem castigar outras. Nekhliúdov via que a antropofagia não havia começado na taiga, mas sim nos ministérios, nas comissões e nos departamentos e apenas se concluía na taiga; que o seu cunhado, por exemplo, bem como todos os juízes e funcionários, desde o oficial de justiça até o ministro, nada tinham a ver com a justiça ou com o bem do povo, de que falavam, mas sim precisavam pura e simplesmente dos rublos que lhes pagavam para fazer tudo aquilo que gerava tal degradação e sofrimento. Isso era completamente óbvio.
"Então, será que se faz tudo isso só por causa de um mal-entendido? Não haveria um meio de garantir a todos esses funcionários o seu salário, e até lhes dar um prêmio, só para não fazer tudo aquilo que fazem?", pensava Nekhliúdov. E com tais pensamentos, já depois do segundo canto dos galos, apesar das pulgas, que a qualquer movimento que ele fazia saltavam à sua volta como um chafariz, Nekhliúdov adormeceu num sono profundo.
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