"Após o acidente, fiquei menos visível. Não falo no sentido óbvio de que fui a menos festas e me afastei dos olhares gerais. Ou não só isso. Quero dizer que, depois do acidente, fiquei mais difícil de ver.
Em minha lembrança, o acidente adquiriu uma beleza dura, deslumbrante: o sol branco, a volta lenta no ar como se eu estivesse naquela xícara do parque de diversões (meu brinquedo favorito), sentindo o corpo se mover mais depressa que o veículo que o continha e em sentido contrário. Então um clarão com uma explosão de estilhaços quando fui ejetada pelo para-brisa, ensaguentada e assustada, sem entender.
A verdade é que não me lembro de nada. O acidente aconteceu à noite durante um temporal de agosto, num trecho deserto de estrada que corta campos de milho e soja, a alguns quilômetros de Rockford, Illinois, minha cidade natal. Pisei no freio e meu rosto bateu no para-brisa, e eu apaguei na hora. Dessa forma, fui poupada da aventura de ver meu carro saindo da estrada, entrando num milharal, capotando várias vezes, pegando fogo e por fim explodindo."