Isidoro dei Resti, que a acolheu, era amigo do matemático e jurisconsultor Fazio, pai da criança que ela levava ao ventre. A esposa de Isidoro, madonna Giulia, foi extremamente amável com Chiara e fez com que ela se sentisse em casa. Aliás, uma casa bastante agradável e espaçosa, toda de pedra e com as paredes brancas. Diferentemente da maioria das residências, tinha mais de um aposento e ficava a menos de cem passos da igreja e do comércio de tecidos e grãos.
Nesse momento, na verdade, Chiara gemia na cama de hóspedes. As luzes das velas tremulavam no lustre de pedestal e em cima da cômoda. O quarto era bastante confortável, mas as dores do parto tornavam o lugar um inferno sem-fim. Isso sugeria que algo de errado poderia estar ocorrendo.
Não era normal um parto tão prolongado em quem já parira antes. Havia raiado o terceiro dia, e a barriga endurecia assustadoramente, de uma forma tão desgastante que Chiara desfalecia de tempos em tempos. A parteira, bastante cansada, tinha dormido por alguns minutos no sofá do canto do quarto e saíra um pouco para recobrar as forças.
Vestidas de preto, algumas vizinhas recepcionadas pela signora Dei Resti rezavam na sala de estar e já esperavam por uma notícia ruim. Afinal, o parto era um daqueles momentos de alto risco na vida de uma mulher e também, claro, da criança. De forma menos frequente, mas não rara, ambos terminavam enterrados lado a lado.
De qualquer maneira, o risco estava em toda parte. Voltara a Milão a peste negra, depois de uma ausência de muitos anos. A pobreza tinha aumentado, e os mais desamparados vagavam pela cidade.
Mesmo o popolo grasso, como eram chamados os mercadores em ascensão, não estava muito bem. Cardadores de lã, tintureiros e serventes reclamavam da situação. Em tom de lamento, repetia-se: quando falta comida, a peste come. Esta tinha sido a razão para Fazio escolher Pavia, aparentemente sem casos registrados até então. Pelo menos foi o que disse a Chiara.
Ela já tinha tido a peste e sobrevivera; este era o sinal de que tinha humores internos altamente favoráveis. O fruto da gravidez, porém, era uma incógnita. E nem sempre bem-vindo.
- Chega... Este é o castigo... — gemeu Chiara, quase em alucinação. No fundo, ela sabia que o castigo poderia ser ainda pior. E gritou, a ponto de ser ouvida na sala: - Eu amaldiçoo este filho!
Todos ficaram petrificados. Ninguém falava algo dessa magnitude e permanecia impune. Acreditava-se que tanto os espíritos da floresta poderiam agir de forma bastante malévola quanto o próprio Espírito Santo. Uma das choradeiras saiu subitamente pela porta da casa à procura da madonna Di Filippi, a adivinhadeira mais influente de toda a região. Ela já havia conversado com Chiara alguns dias antes. Talvez pudesse quebrar o efeito de uma corrente tão negativa."