18 de novembro de 2013 | 20h04
definição
poeta é onda
onda é canto
canto é espera
espera é adeus
adeus é morte
morte é nódoa
nódoa é ostra
ostra é ensaio
ensaio é busca
busca é poeira
poeira é poeta
(novembro de 1968)
quase
uma tarde cremosa.
coração, bates; como quem está amoroso ou precisando escrutinar páginas virgens.
há um outono lânguido tiquetaqueando por entre nuvens de lentidão; há um casal de andorinhas se buscando entre antenas e para-raios; há um homembinóculo de camisa azul, no alto de um terraço, violentando janela por janela;
vozes surrealistas de crianças levantam voo por detrás de um varal; um urubu solitário espirala, talvez à cata de carniça entre o crepúsculo.
os sonhos que rabiscam velhos mares não são mais daquela finidade antiga; e ser, nesta meia-hora, é descascar sem muita pressa, é interpretar nuances de magia.
que mistério engravida esta cidade?
(texto para escola datado de 30.3.69. A professora dá 10 e escreve: “Lindo”)
A casa era uma ilha ancorada e pela paisagem
passavam os barcos da paixão dispersando o
desejo.
Como quem não quer nada.
teu amor esguio.
(anos 80)
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