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Leia poemas de Donizete Galvão

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Por Redação
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Morto dia 30 de janeiro aos 58 anos, Donizete Galvão, poeta mineiro radicado em São Paulo, deixou sete livros de poesia. Confira poemas extraídos dos títulos A Carne e o Tempo, Mundo Mudo, Ruminações e O Homem Inacabado:MilagreTem de haver um porto, uma praça, um caramanchão de rosas brancas, uma sombra. uma moringa d’água. por certo, tem de haver uma pinguela, um mata-burro, um canário da terra, um fogão de lenha soltando fumaça. deve haver numa curva um remanso, ceva de pássaros, canto de seriema, prata de peixes rio acima: piracema. Do livro A Carne e o Tempo (1997)Miolo Lembro-te mata, tenda de folhas, ninhal de minas, casulo de sombras, alcova de brotos, renda de luzes, vertigem de avencas, friagem de sapos, labirinto de cipós, manto de limos, frescor de cambraias, grafias de cascas, acridez de sumos, açúcar de flores. Recorro a todos os nomes sem nunca recuperar o frêmito de espanto, o susto da criança Inaugurando a mata. Do livro Ruminações (1999)Oração naturalFique atento ao ritmo, aos movimentos do peixe no anzol. Fique atento às falas das pessoas que só dizem o necessário. Fique atento aos sulcos de sal de sua face. Fique atento aos frutos tardios que pendem da memória. Fique atento às raízes que se trançam em seu coração. A atenção: forma natural de oração.VISITAQue ela cheguesem clarins ou trombetas, entre como facho de luz pelas gretas da janela e atravesse o quarto na sua claridade. Que ela chegue inesperada, como a chuva na tarde calorenta e faça subir o odor de poeira molhada. Que ela chegue e se deite ao meu lado, sem que a perceba. Que me lave com água de fonte e me cubra com o bálsamo branco do silêncio. Do livro Mundo Mudo (2003)Saturação No círculo que a xícara de café deixa desenhado no pires, o grão amargo do equívoco. O olhar preso, a vida presa. Ânsia que confrange os ossos. Ninguém atura o risco do cerco. Ninguém sai dele de mãos vazias. Do livro O Homem Inacabado (2010) 

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