
07 de dezembro de 2012 | 19h57
Qualquer homem, ao propor-se uma tarefa como a que se cumpre em Itinerário, uma tarefa que penetra a própria interioridade e o próprio destino e ao mesmo tempo a interioridade e o destino do seu tempo, caminha sobre o fio da navalha. Não será demais destacar que Paz, ao fazer isto, o faz como faz aqui, de maneira egocêntrica, incômoda, sem medos, com valentia, leal às suas manias e a suas simpatias e perseverante em suas diferenças. Que o tenha feito como um homem bem nascido e b em plantado, intransigente em seus desprezos e militante em suas defesas, enxovalhado pelas calúnias reiteradas, comovido por suas desilusões e suspenso por suas convicções. Em um continente como o latino-americano, acanalhado pelas mentiras e sabotado pelas cumplicidades de casta, foi uma bênção que alguém dissesse, com quase oitenta anos de vida, e à sombra venerável de Montaigne: "Este sou eu". Tradução Anna Capovilla
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