PUBLICIDADE

Lech Walesa aconselha Grass a renunciar título honorário

O ex-presidente da Polônia e prêmio Nobel da Paz aconselhou o escritor alemão, que revelou ter feito parte da Waffen-SS, a renunciar ao título de Cidadão Honorário de Gdansk

Por Agencia Estado
Atualização:

Lech Walesa, ex-presidente da Polônia e prêmio Nobel da Paz, pediu ao escritor alemão e prêmio Nobel de Literatura de 1999, Günter Grass, que renuncie ao título de Cidadão Honorário de Gdansk. Nesta última sexta-feira, Grass admitiu pela primeira vez, em entrevista publicada pelo jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, ter feito parte da Waffen-SS, o corpo de elite militar do regime nazista, pouco antes do final da 2.ª Guerra Mundial. "Existe uma diferença entre ter estado na USS e ter feito parte daquilo", diz Walesa, que aconselha o escritor a abandonar o título em entrevista que o jornal Bild publica na segunda-feira. Grass só havia dito até agora que esteve enrolado na defesa antiaérea alemã em 1944, antes de ser ferido e feito prisioneiro pelos americanos em 1945. Sua confissão dividiu opiniões na Alemanha - enquanto alguns escritores expressaram respeito pela decisão de revelar a verdade, como Martin Walser, outros ficaram indignados porque recordaram que Grass sempre foi considerado um "exemplo moral" no país. O popular crítico literário Hellmuth Karasek disse inclusive que Grass poderia não ter recebido o Nobel de Literatura em 1999 se o mundo soubesse que havia integrado a Waffen-SS. Figura capital da literatura alemã e européia nos últimos 50 anos, o escritor faz a revelação em seu livro de memórias Beim Haeuten der Zwiebel (algo como Descascando Cebola), que será lançado em setembro. Segundo a autobiografia do autor de "O Tambor" (1959), aos 15 anos ele tentou alistar-se nas forças que tripulavam os submarinos do Terceiro Reich, mas foi recusado porque era jovem demais. Ele conta ainda que, em 1944, quando tinha 16 anos, recebeu como todos os jovens nascidos em 1927, uma ordem para alistar-se no exército alemão. Grass não foi integrante das forças alemãs, mas das SS, os corpos militares de elite criados em 1940 que chegaram a contar com mais de 950 mil homens e que eram o braço de combate do regime nazista de Adolf Hitler. "Durante o último ano da guerra, a Waffen-SS não aceitava unicamente voluntários", precisou Grass em suas declarações ao "Frankfurter". Comprometido com posições de esquerda e grande amigo do ex-chanceler social-democrata alemão Willy Brandt, Grass, que além do Prêmio Nobel em 1999 recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias, realizou uma crítica desapiedada da reunificação alemã em vários de seus livros. Em suas novelas se misturam de uma forma nada convencional o realismo, o macabro, a fantasia e o simbolismo, sempre a serviço do tema central de toda sua obra: a culpa coletiva.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.