
22 de setembro de 2010 | 00h00
Já é tradição. Todos os anos, o Porto Alegre em Cena - festival de teatro da capital gaúcha - elege alguns dos grandes nomes da cena internacional para coroar sua programação. Em sua 17.ª edição não foi diferente. Os espetáculos de Peter Brook e do lituano Eimuntas Nekrosius - dois dos maiores diretores em atividade hoje no mundo - cumpriram essa função e brilharam na grade da mostra, que começou dia 8 e se estende até segunda.
Mas não é apenas com grifes que Luciano Alabarse, coordenador-geral do festival, montou a seleção deste POA em Cena. É justamente nos países vizinhos - Uruguai e Argentina - que ele encontrou a representação mais numerosa de sua seleta internacional. A eleição de cinco montagens portenhas e cinco uruguaias dá sinais de que Porto Alegre se mantém firme em seu propósito de dialogar com a América Latina. Nem sempre a seleção se revelou equilibrada. Com aparência datada, Sonata de Otoño é um desses trabalhos que não diz a que veio. No geral, porém, o festival cumpriu a função de trazer ao País boas peças que raramente cruzam a fronteira.
Foi o caso de Los Padres Terribles, saudada como uma das melhores encenações de Montevidéu no ano passado, e de Por Tu Padre, versão argentina para o texto de Dib Carneiro Neto, editor do Caderno 2. No Brasil, onde foi montada como Adivinhe Quem Vem para Rezar, em 2005, a peça teve Paulo Autran desdobrando-se em três personagens. Nesta adaptação vinda de Buenos Aires, quem ocupa esse posto é o veterano Federico Luppi, que se revelou como o maior acerto da versão dirigida por Miguel Cavia.
Na ala nacional, a curadoria também se manteve coerente em sua proposta de apresentar um panorama que extrapole o eixo Rio-São Paulo, convocando trabalhos do Nordeste, de Minas e do Paraná. Quem chamou a atenção, no entanto, foi a delegação carioca, que apresentou duas competentes leituras de textos contemporâneos franceses: A Inquietude, de Valère Novarina, e A Solidão nos Campos de Algodão, de Bernard-Marie Koltès, que surgiu em provocativa montagem de Caco Ciocler.
Da Lituânia. Desconhecido das plateias brasileiras, o lituano Eimuntas Nekrosius é velho conhecido do público de Poto Alegre, que já tem o hábito de esperar com ansiedade por suas criações. Neste ano, surpreendeu sua grandiloquente transposição do romance de Dostoiévski, O Idiota. Pontuado por imagens de grande carga simbólica, o espetáculo soube atravessar as passagens folhetinescas da história sem escamotear seus embates filosóficos. Os atores também conseguiram dosar a força do texto com um preciso trabalho físico, transferindo para o corpo muitas das intenções que não ousam ser verbalizadas.
Festa do Mercosul
Em sua 17ª edição, o Festival Porto Alegre em Cena destacou espetáculos de vizinhos latino-americanos, como Argentina e Uruguai, que compareceram, cada um, com cinco trabalhos.
PROGRAMAÇÃO
Dias 22 e 23, às 19 h
Los Caballos
Espetáculo do Uruguai, com direção de Ernesto Clavijo, sobre a busca de um cavalo para levar uma menina ao hospital
Dias 22 e 23, às 22 h
Cuestión de Principios
Montagem uruguaia, de Patrícia Yosi, que trata da problemática relação entre pai e filha
Dias 24, 25 e 26, às 20 h
Electra
Peça uruguaia, da dramaturga Marisa Betancur, baseada na tragédia de Sófocles
Dias 24, 25 e 26, às 18 h
In on It
Montagem carioca do diretor Enrique Diaz, é uma encenação do texto do canadense Daniel MacIvor
Dias 24, 25 e 26, às 22 h
Final de Partida
Da Venezuela, o diretor Héctor Manrique traz essa versão para o texto de Samuel Beckett
Dia 26, às 21 h
Último Tango em Berlim
A cantora alemã Ute Lemper faz um show em que mescla tangos e canções de cabaré
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