Lady Gaga & Sir Borocoxô

Colunista comenta o sucesso fenomenal do último videoclipe de cantora pop.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

Tirem essa luz forte de cima de mim. Deem-me um copo de água. Dispenso a presença de um advogado. Eu confesso. Fui eu, sim. Fui um entre aquele bilhão de pessoas a acessar, tanto noYouTube quanto em outros sítios da net, os vídeos dela, de Lady Gaga. Aquele com a - e o escrivão pode acrescentar - Beyoncé. Todo mundo sabe. O clipe da prisão de mulheres, caindo de lésbicas, e coalhado de referências a um punhado de filmes de boa e má qualidade. Telephone é o nome, confere? Divertidíssimo. 9 minutos e 31 segundos de muita invenção e grande acabamento. O fato de não haver música que preste na jogada não é desculpa para mim, réu confesso. Espero que estejam gravando este meu arremedo de confissão. Conto que a câmera de vídeo, ali no canto, não esteja captando este momento difícil, duro mesmo, para mim. Não quero amanhã me ver, ou que me vejam, em qualquer sítio de clipes que seja. Embora eu já tenha alguns no YouTube. Estou me adiantando, já chego lá. Antes os senhores, distintas autoridades, querem os fatos, não é mesmo? Pois vamos a eles. Lady Gaga acaba de bater, com minha anuência (mais: minha colaboração), o recorde de hits (lato sensu) num sítio. Os senhores me desculpem, mas eu prefiro "sítio" a "site". Coisa de velho. Lady Gaga, née Stefani Joanne Angelina Germanotta, com apenas 23 aninhos e um senhor nariz, acaba de deixar para trás Britney Spears, Beyoncé Knowles (a que racha com ela o vídeo da prisão) e Susan Boyle, aquela senhora que ganhou um concurso de calouros, sem falar em outro calouro dito "prendado", Paul Potts, e a banda Coldplay. Não é pouco. Lady Gaga, que foi catar seu nome numa faixa do conjunto Queen, Radio Gaga, chegou a primeiro lugar num chart (falemos linguagem pop, meus senhores) de 65 vídeos da internet, todos eles assistidos mais de 100 milhões de vezes. Especificando: o vídeo de Poker Face obteve 374 milhões de hits, Bad Romance pegou 360 milhões e Just Dance 272 milhões. É muito acesso para tão jovem talento. O que explica o fato de que ainda na semana retrasada, na Nova Zelândia, a ilustre Lady tenha desmaiado 3 vezes. Não é só jet lag que explica. O sucesso, quando em excesso, também derruba gente boa. No chart que mencionei acima, a artista do momento (ninguém sabe quem será a do próximo momento) só perdeu para clipes do filme Twilight, que teve 640 milhões de acessos e, de novo, ela, sempre ela, Beyoncé, com Single Ladies, auferindo, se pop aufere, 522 milhões de acessos. Em 59º lugar, tão simpático, um urso espirrando. 109 milhões de clicadas. Seguidas, quero crer, de 109 milhões exclamações de "saúde!". Mais não tenho a confessar, senhores autoritaristas. A não ser que os mais íntimos deram, do sucesso de Lady Gaga para cá, para me chamar de Sir Borocoxô. Isso porque eu também estou lá no YouTube passando recibo de minhas misérias. Basta o distinto com o computadorzinho aí do lado digitar meu nome no espaço de busca para subirem logo 6 (seis) clipes onde, modéstia, mas modéstia para valer, sou o figurante principal. Devo este meu pobre quinhão de glória (melhor dizendo, inglória) a um amigo versado nas artes e travessuras informáticas que teve a gentileza de colocar no sítio em questão, dividida em 6 partes, os 20 minutos de minha "atuação" num filme da Atlântida de 1950, Maior Que O Ódio. Sim, confesso-me também um dos três piores atores do mundo de todos os tempos, lá em cima, ou embaixo, junto com Denzel Washington e Selton Mello. Deve ser por isso que, muito justamente, ninguém se interessou. 1.062 almas desatentas clicaram nos minutos da abertura. Nas outras partes, fiquei lá pelas 300, 400 e, estourando, 500 acessos. Quer dizer, bastou uma pequena pala da histrionice deste seu criado para dar um merecido tédio no ousado, ou pobre xereta, internauta. Sendo o que se apresenta no momento, podem me passar o devido documento para que eu, de bom grado, inda que envergonhado, o assine e rubrique página por página. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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