Labirintos da trama policial

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Por Ubiratan Brasil
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O americano Scott Turow conhece todos os segredos do romance policial - advogado em Chicago, ele se tornou um mestre da descrição de tribunais quando foi alçado a escritor de best-sellers (traduzidos em mais de 25 línguas, seus romances venderam mais de 25 milhões de exemplares em todo o mundo). O sucesso o tornou um dos grandes nomes da literatura de suspense, seduzindo até outros meios de comunicação, como o cinema: Acima de Qualquer Suspeita, por exemplo, seu primeiro livro, chegou à tela grande estrelado por Harrison Ford. "Eu não pensava em escrever uma sequência desse romance, pois não me sentia motivado, quando o lancei, em 1987, a competir comigo mesmo", comentou Turow ao Estado na sexta-feira, antes de viajar para o Rio onde seria uma das estrelas do último fim de semana da Bienal do Livro. "Eu acreditava que não teria um material novo que fosse suficiente a fim de evitar que eu imitasse a mim mesmo."Confortável em seu terno bem recortado, Turow conversa no lobby de seu hotel, na região da Avenida Paulista, mirando um exemplar de O Inocente, pousado na mesa. Trata-se justamente da continuação de Acima de Qualquer Suspeita, lançado recentemente pela editora Record. A pergunta é inevitável: o que o convenceu a mudar de ideia? Como bom argumentador - qualidade indispensável para um advogado -, ele tem sua justificativa. "Passados 18 anos desde aquele lançamento, entrei em um período de introspecção, provocado provavelmente pela ida do meu filho mais novo para a faculdade", conta. "Comecei a rascunhar algumas possibilidades sobre o destino de Rusty Sabich. Durante meses, fiquei com um post it grudado na minha mesa com a seguinte frase: "Um homem sentado em uma cama ao lado do cadáver de uma mulher"". Turow relembra que a ideia não se desenvolvia até o dia em que se assustou. "Meu Deus, aquele homem era Sabich!"Antes de prosseguir, é conveniente elucidar a trama: promotor em Acima de Qualquer Suspeita, Rusty Sabich ressurge, em O Inocente, como um juiz-presidente, acusado de ter assassinado a própria mulher, Bárbara. Afinal, ele ficou em companhia do corpo dela durante 24 horas sem notificar ninguém, o que lhe daria tempo suficiente para ocultar possíveis provas. "Aquele período de contemplação me permitiu desenvolver uma detalhada relação entre o juiz e sua mulher que justificasse tanto ser um assassino como inocente da morte dela."Os caminhos não foram fáceis, no entanto. Turow precisou reescrever as primeiras 65 páginas, que suspeitou estarem no caminho errado. "Não foi fácil, pois estava envolvido em uma série de compromissos, mas a veracidade era extremamente importante para mim", explica. Ao dizer isso, o escritor comenta que a definição da identidade de seus personagens é crucial para o desenrolar da trama, o que se torna superlativo quando se trata de um romance policial. Turow, aliás, confessa, orgulhoso, que também se surpreendeu com o rumo da história. "As últimas cem páginas me deixaram tão orgulhoso que fiquei correndo pela casa, abraçado a mim mesmo", diverte-se.Admirador de ícones da literatura policial, como Dashiel Hammett e Raymond Chandler, Turow idolatra mesmo a inglesa Ruth Rendell. "Ela é mestre na arte de criar relações intrincadas entre os personagens a fim de não permitir que o leitor antecipe o desfecho", conta ele, que já tem um fio de história de seu próprio romance. Serão dois gêmeos: um está preso enquanto o outro é um político poderoso. Relações familiares em estado puro.O INOCENTEAutor: Scott TurowTradução: Domingos DemasiEditora: Record(434 págs., R$ 39,90)

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