La Scala de Milão reabre, imponente e moderno

O principal palco da ópera mundial, o Teatro La Scala, reabriu as portas do seu foyer hoje, depois de quase três anos de reforma e polêmica

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Teatro La Scala, no centro de Milão, reabriu as portas do seu foyer hoje, depois de quase três anos de reforma e polêmica. A delicada obra de recuperação da casa foi confiada ao engenheiro catalão Higini Arau. Europa Reconhecida, peça do compositor italiano Antonio Salieri, será novamente apresentada ao público 226 anos depois da execução de sua primeira récita, em 3 de agosto de 1778. O principal palco da ópera mundial necessitava de restauração - faltavam instalações adequadas de segurança contra incêndios, por exemplo - e crescer para atender às exigências das atuais montagens e cenografias. O problema maior era a falta de espaço, já que o La Scala está espremido num dos quarteirões mais valorizados da cidade. O jeito foi expandir para cima e para baixo. O arquiteto suíço Mario Botta, responsável pelo projeto da nova torre cênica, comprou uma briga com mais da metade da população de Milão ao construir um edifício helicoidal e levantar um anexo em forma de cubo, com 38 m de altura e outros 18 abaixo do nível da terra. Essa última parte, no subsolo, não se vê e ninguém reclama. Já a outra aparece à altura da fachada e chama atenção, mas pouco, pois acompanha, com boa vontade, o desenho do teatro. O "helicóide da discórdia", arrojado e abstrato, construído nas costas do prédio de estilo neoclássico, despertou a ira dos puristas que viram uma descaracterização do projeto original do arquiteto Giuseppe Piermarini. "A fachada respeita o material original", explica Mario Botta ao Estado. O enorme vão de 56 metros do chão ao teto, equivalente a um edifício com 18 andares, abre espaço para instalação da torre cênica no interior do anexo. Sete pontes garantem os movimentos verticais do palco principal e horizontais do lateral, já que o retropalco é fixo. Quando um sai de cena o outro ocupa o seu lugar. A estrutura permite a montagem completa de uma peça no subsolo, a execução de três cenografias ao mesmo tempo, distribuídas numa área cênica com 1.600 metros quadrados, e dá a possibilidade de aumentar em 30% a oferta de espetáculos no teatro. Os operários fizeram numerosas horas extras no templo onde já dançou Rudolf Nureyev, cantou Maria Callas e se apresentaram Giuseppe Verdi (1843) e Richard Wagner (1873), para citar apenas alguns. Cada poltrona traz embutido um display em fibra ótica, no qual o espectador poderá ler - em diferentes idiomas - o texto da ópera, durante o espetáculo. O camarote real, o mesmo freqüentado por Napoleão Bonaparte, em 1796, recuperou o seu esplendor original graças a um meticuloso trabalho de restauração, quase de arqueologia, estendido a todas as dependências do teatro. Mármores, espelhos, afrescos, pisos em cerâmica e madeira reencontraram as suas cores e funções originais. A sala teatral, os palcos, as galerias e Casino Ricordi - sede do museu - voltaram no tempo. Do piso ao teto, passando pelas escadas e colunas, nada escapou ao olhar atento dos especialistas. Não faltaram surpresas como a descoberta das paredes dos corredores dos palcos em mármore do século 17, escondidas sob camadas de pintura. Essa não é a primeira restauração completa do teatro La Scala, que vem sendo modernizado ao longo dos anos, mas sempre de maneira caótica. O teto do teatro apresenta inúmeras sobreposições e o subsolo era um labirinto interminável de salas e fiações. A última reforma aconteceu por motivo de força maior. Uma bomba incendiária, lançada durante um raid aéreo britânico, em 16 de agosto de 1943, caiu no meio do teatro. Durante a reconstrução do palácio, boa parte dos escombros serviu de base para o novo piso. Sem querer, essa solução comprometeria a parte mais sensível do teatro: a acústica da sala. Nesse sentido, entre muitos outros cuidados, cortinas, tapeçarias e o forro das poltronas foram revestidos por um véu de polietileno.

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