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Lá no bairro da Luz

Em quatro filmes, histórias de uma das regiões mais cosmopolitas de São Paulo

Por Flavia Guerra
Atualização:

Da primeira vez, era a cidade. Era São Paulo e esta metrópole. Desta vez, a Luz da cidade. Ou melhor, o bairro da Luz e seus arredores inspiram quatro diretores que filmaram em suas lendárias ruas, esquinas, parques, praças, bares e casas. Quatro filmes que contam muitas histórias: as dos judeus, dos armênios, dos nordestinos, dos coreanos... É este caleidoscópio de gente, línguas e culturas, ruas que dão o tom ao Telefilmes Cultura II, a série de filmes feitos para a TV que estreou na TV Cultura em 2009 e chega à sua segunda temporada. Os quatro novos "episódios" (cada um de 52 minutos) têm lançamento hoje para convidados no Museu da Língua Portuguesa e estreiam no sábado, às 22h15, na faixa Cine Brasil. Apesar de "feitos para a TV", o "cine" no nome não é por acaso. O projeto, que desta vez elegeu quatro diretores para contar histórias de quem vive e faz a história de uma das regiões mais cosmopolitas da capital, prima exatamente por levar à televisão a linguagem do cinema. Não é por acaso também que o diretor Marco Del Fiol foi buscar na câmera observadora de diretores como Jia Zhang Ke e Yasujiro Ozu o olhar que queria dar à uma destas quatro histórias: Segundo Movimento para Piano e Costura. É a história de Nicole e Ik. Ela, uma costureira filha de imigrantes judeus. Ele, um pianista coreano. Entre um passeio pelo Parque da Luz e uma visita a uma loja de vestidos de noivas coreanos (coloridíssimos, claro), os dois se encontram e desencontram. "A história deles, e o projeto todo, têm tudo a ver com a cidade e com as transformações que o bairro sofreu", comentava Del Fiol enquanto esperava que a equipe aprontasse a última cena de seu primeiro telefilme. "A gente queria fazer um filme que não fosse violento e nem tratasse de miséria. Há tanto assunto para se falar. E a ideia inicial foi se desdobrando... Brinco que é um pouco esquizofrênico. Era para ser um filme simples. Sobre relações humanas. Quando vimos, tínhamos uma diária na sala São Paulo. Uma cena de dança com 60 figurantes. Metade do elenco coreano falando em coreano."Para o diretor, um projeto como este é um luxo. "Este edital é muito bacana. Premiar argumentos, para que se desenvolvessem os roteiros é raríssimo."Vale lembrar que o edital (ou programa Telefilmes Cultura) é uma parceria da TV Cultura com a Secretaria de Estado da Cultura que, por meio de concurso, elegeu quatro roteiros para serem desenvolvidos, filmados e exibidos. Cada um recebeu da SEC R$ 600 mil, com investimento total de R$ 2,4 milhões. A TV Cultura garantiu a exibição, estúdios e equipamentos. O fato de a Luz e arredores serem tema desta segunda edição não é por acaso. Em tempos de Nova Luz, em que a região passa pelo processo de revitalização - entre outros, já renovou a Pinacoteca do Estado, trouxe o Museu da Língua Portuguesa e ganhará o Teatro de Dança do Estado - é oportuno contar as histórias de uma das regiões que mais traduz a ebulição e as transformações por que São Paulo, e o Brasil, estão passando. "A Luz e o Bom Retiro receberam italianos, judeus, chineses, gregos, coreanos, bolivianos. Com a revitalização, há a reocupação dos espaços", comentaram David Kullock e Sylvia Lohn, diretor e roteirista de A Mudança. No filme, por meio da história de duas famílias, a tradição judaica dá lugar à coreana e à transformação por que a região passa desde a década de 60. "Coreanos ocuparam pontos que perderam função com a ida dos judeus para Higienópolis. Hoje, no Parque da Luz, coreanos fazem ginástica todo dia", diz Del Fiol, para quem a miscigenação coreana com o paulistano é questão de tempo. "Imigrantes começam a ser misturar na terceira geração. Nossa história fala disso. O primeiro momento é de adaptação, depois integração e por fim miscigenação."Números 1600é o ano oficial de fundação da Luz1820é a data do surgimento do Bom Retiro21.707 é o número aproximado de moradores1963 é o ano da chegada dos coreanos a SP50 milcoreanos e 34 mil bolivianos vivem em SP 70%do comércio é administrado por coreanosCONTOS URBANOSMusa ImpassívelDirigido por Marcela Lordy, abre a série com a história de Adrine, neta de armênios que sofre de TOC, e Edvaldo, filho de pernambucanos que tem paralisias momentâneas. Eles se conhecem na LuzSegundo Movimento Para Piano e CosturaCom produção de Philippe Barcinski e direção de Marcol del Fiol, revela, por meio da história de Nicole (neta de judeus) e Ik (um pianista coreano) a diversidade cultural do Bom Retiro e da Luz A MudançaDirigido por David Kullock, esta comédia revela as confusões que surgem quando uma família judia vende a casa em que mora há 50 anos no Bom Retiro para uma família de coreanos AndaluzFechando a programação, tem direção de Guilherme Motta e acompanha a vida de Andaluz, andarilho que, enquanto tenta desvendar mistérios do Mosteiro da Luz, quer descobrir a própria identidade

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