Kudo retoma imaginário infantil em mostra em SP

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Por Agencia Estado
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Dizer que a exposição que James Kudo inaugura sábado, na DAN Galeria, é um retorno às imagens de sua infância é um tanto quanto simplificador. As pinturas de cores misteriosas, cheias de vazios, povoados aqui e ali por elementos referenciais, como balanços, gangorras e o quase onipresente escorregador ou por figuras ambíguas, ou por formas estranhas - que o artista diz ter tirado das pedras que colecionava quando garoto - foram inspiradas por registros visuais de seu passado, mas são uma reconstrução nostálgica de um universo afetivo que ultrapassa o caráter pessoal e alcança a categoria de um belo elogio à pintura. Como escreve Maria Alice Milliet no catálogo da mostra, "errando, borrando, redesenhando como uma criança, Kudo retoma fragmentos do imaginário infantil e com eles refaz seu universo". Com 34 anos e inaugurando sua primeira exposição comercial na cidade, Kudo considera seus trabalhos atuais uma espécie de índice, a partir do qual sua obra vem se definindo. Esse retorno a um universo mais tangível e afetivo - ele mesmo reconhece ser mais identificado pelos exercícios abstratos (normalmente vinculados à colônia japonesa no Brasil) ou às instalações e objetos tridimensionais que exibiu nos últimos anos - começou a germinar no início da década de 90, quando ganhou uma viagem para Nova York como prêmio e decidiu viver por um ano e meio na cidade, deixando para trás o emprego seguro que tinha como designer das estamparias da marca OP. "Lá comecei a trabalhar coisas que estavam pendentes, foi um período de encontro comigo mesmo", explica. Um exemplo disso é o fato de ele ter iniciado nesse período sua primeira tela preta. "Sempre gostei do preto, mas desde criança me diziam que preto não é cor", brinca. Também foi em Nova York que descobriu seu interesse em aproximar a pintura da gravura, após descobrir encantado a obra Máquina de Gorjeios, de Paul Klee. Desde então Kudo começou a explorar as potencialidades da monotipia, associando-a à sua pintura, como naquela em que recria simbolicamente suas várias casas. Para isso, cria moldes utilizando simples bandejinhas empregadas para embalar carne em supermercados. Ele também faz questão de "inventar" as cores que usa, recriando novos tons velados, calmos, difíceis de reproduzir com fidelidade. O contraste entre a veladura que obtém com a tinta acrílica - dando-lhe uma transparência mais identificada com a tinta a óleo - e as pequenas imagens que "carimba" na tela de forma imprecisa criam uma atmosfera tênue e fragmentada, como se já tivesse sido apagada pelo tempo. A relação de Kudo com os playgrounds não é lúdica, mas contemplativa. Desde pequeno ele admirava essas belas e coloridas formas a distância, sem brincar com elas por temer se machucar. Suas outras diversões, que também estão na origem de sua obra, se referem ao rico universo familiar. O pai, fotógrafo, e a mãe, professora de culinária e corte e costura (que preparava as moças da região para o casamento), garantiam distração suficiente para o garoto, nascido em Pereira Barreto e criado em Marília, no interior de São Paulo. Aliás, a fotografia é uma presença constante em sua obra, até de forma explícita, como nos trabalhos em que recria jogos de negativo e positivo com a pintura. James Kudo. De 3.ª a 6.ª, das 10 às 19 h. Sáb., das 10 às 13 h. DAN Galeria. Rua Estados Unidos, 1.638, tel. 3083-4600. Até 21/8. Abertura sábado, às 10h.

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