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Juca de Oliveira focaliza a vida caipira

Depois do sucesso de Albieri, em O Clone, ele volta a se dedicar ao teatro e escreve peça sobre a solidariedade do homem do campo em conflito com o universo urbano

Por Agencia Estado
Atualização:

São duas horas da tarde e, sob um sol pálido, Juca de Oliveira sai de um carro preto, de vidros idem, e chega ao Teatro Bibi Ferreira, na Rua Augusta. Os sorrisos e apertos de mão distribuídos aos funcionários do teatro contrastam com a expressão carregada, séria, que as sobrancelhas espessas conferem ao homem de 67 anos. Ele encontra a reportagem do Estado esperando há cerca de 15 minutos. "Não vou pedir desculpa pelo atraso, porque costumo ser a pessoa mais pontual do mundo", diz o ator. E explica que ficou preso no aeroporto do Rio, por causa dos poucos horários de vôos da ponte aérea oferecidos no feriado. É 9 de julho e ele passa por São Paulo, antes de ir para a fazenda onde mora, na região de Itapira. Depois do sucesso na televisão, em que interpretou o cientista Albieri de O Clone, Juca quer retomar Tema Caipira, sua nova comédia - que parou de escrever durante as gravações da novela - e que promete ser uma guinada autoral na carreira do comediógrafo, com foco estabelecido sobre o homem do campo. Juca tem algo de Albieri, é incontestável. A paixão pela ciência fica evidente quando ele aprofunda os fundamentos de Tema Caipira. "Se você estuda genética e etologia (estudo do comportamento animal), pode perceber que sofremos uma mutação genética ao longo do nosso desenvolvimento cultural, que resultou numa perda de características essenciais para a preservação da espécie, em especial a solidariedade", diz Juca. "A doninha e o esquilo, por exemplo, são animais que, ameaçados por um predador, berram assustadoramente para que o predador os agarre, enquanto a família possa fugir." Para Juca, esse comportamento altruísta dos animais já não pertence mais à raça humana: "O homem é um bicho horrível. Cada vez mais destrói, estupra, anda amarrado a bombas, é lamentável." Por isso, escrever comédias é uma opção natural para Juca. "Na há tragédia moderna porque não há o homem virtuoso moderno. Os homens de hoje, ao contrário de Édipo, interrompem o processo de investigação porque não querem se saber culpados. Então, minha matéria-prima continua sendo os precatórios, a falta de caráter dos políticos que se locupletam do dinheiro, os amigos do presidente que interferem no processo político e ganham dinheiro; enfim, sobre essa peste que grassa em nossa sociedade." O ator de teleteatro da TV Tupi e o intérprete bissexto de novelas da Globo, que se lançou na carreira de comediógrafo com Baixa Sociedade, em 1977, adianta que o enredo de Tema Caipira cruza um senador da República, filho de ricos fazendeiros, com uma família de colonos analfabetos. Para fazer parte de caixa (Juca ressalta que a outra parte virá da corrupção mesmo) para sua campanha a presidente da República, o senador resolve vender a fazenda. E entra em confronto com a família que será expulsa depois de tanto tempo morando lá.

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