Joyce di Donato lança disco e faz recitais em São Paulo

'É minha primeira vez na América Latina e estou encantada, a cada país me sinto mais bem-vinda', afirma a meio-soprano

PUBLICIDADE

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

A música é como uma droga, diz a meio-soprano norte-americana Joyce di Donato - e logo complementa. "A questão é que, com o tempo, você pode consumir quanto quiser, não importa: a sensação nunca vai ser tão boa como das primeiras vezes." Sem fatalismos. Ela, no fundo, acredita de verdade no encanto renovado da fruição artística. "E cabe ao intérprete também ter isso em mente na hora de se relacionar com o público."

PUBLICIDADE

Di Donato é a queridinha atual da música lírica norte-americana. Venceu este ano o Grammy com o disco Diva/Divo. Em 2009, lotou o Covent Garden, de Londres, interpretando Rosina, no Barbeiro de Sevilha. Detalhe: depois de quebrar a perna durante a temporada, resolveu ir até o fim da temporada cantando em uma cadeira de rodas, arrancando ainda assim comentários inspirados da crítica inglesa. Ela também mantém um blog (o yankeediva, rebatizado e hospedado agora em seu site) e uma conta bastante ativa de twitter.

"É um desafio tão grande e, ao mesmo tempo, tão excitante viver em uma época com tantas transformações e possibilidades", disse ela por telefone à reportagem na manhã de quinta-feira, horas após uma apresentação no Teatro Colón, de Buenos Aires. Ela já passou pelo Chile, Argentina e Rio, onde fez recital na sexta-feira. Nesta segunda e terça, canta na Sala São Paulo pela temporada da Sociedade de Cultura Artística. "É minha primeira vez na América Latina e estou encantada, a cada país me sinto mais bem-vinda", declara, arranhando, mesmo antes de chegar ao Brasil, um "muito obrigada".

O programa dos recitais em São Paulo, diz, tem como objetivo apresentá-la "musical e artisticamente" ao público brasileiro. "As canções em geral, mas em especial as de Obradors, assim como as árias de Haendel, foram muito importantes na minha juventude, no colegial. Foram elas que fizeram com que eu me apaixonasse pelo canto"", conta, lembrando do ambiente musical de sua família. "Vivíamos uma rotina modesta, meu pai trabalhava muito para bancar a família. Mas era um homem sonhador e a música sempre fez parte do nosso cotidiano, desde os clássicos e o jazz até o rock and roll que fazia a cabeça dos meus irmãos." Já os trechos de As Bodas de Fígaro e O Barbeiro de Sevilha, que ela canta em seguida, foram escolhidos "por serem símbolos de minha paixão pela arte de contar uma história".

Sua carreira tem fugido de rótulos. Diva/Divo, que a gravadora Virgin Classics aproveita para lançar esta semana no Brasil, é prova disso. O título faz alusão a alguns papéis masculinos tradicionalmente interpretados por meio-sopranos. Estão lá os suspeitos de sempre, como Cherubino, das Bodas de Fígaro, de Mozart, ou o Compositor, da Ariadne auf Naxos, se Strauss. Mas ela ousa ao registrar, por exemplo, a ária de Susanna, também das Bodas, escrita para soprano. "Se eu gosto da proposta da música e acho que posso fazer... No fundo, o prazer de cantar é a coisa que me guia. E espero que o público sinta isso."

JOYCE DI DONATOSala São Paulo (Praça Júlio Prestes, 16). Telefone (011) 3223-3966. Segunda e terça, às 21 h. R$ 100/ R$ 230.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.