José Wilker marcou sua presença como ator e diretor

Gostava tanto de cinema que virou comentarista do Oscar

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

José Wilker seria homenageado no próximo Cine-PE, o Festival do Recife. Ia receber um prêmio de carreira. A homenagem agora vai ser póstuma. Wilker morreu na manhã deste sábado, 5, no Rio, em casa, aos 69 anos. O enfarte colheu-o enquanto dormia. José Wilker! Para qualquer cinéfilo, qualquer telespectador, qualquer fã de teatro, as imagens passam rapidamente enquanto se processa a informação. Pois Wilker marcou sua presença, como ator e diretor, em todas essas mídias. Foi melhor ator da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), na categoria TV, pela novela Fera Ferida. Foi melhor ator no Festival de Gramado como O Homem da Capa Preta, de Sérgio Rezende. Gostava tanto de cinema que virou comentarista do Oscar. Ele próprio contava. Fazia uma peça de Gil Vicente, no Rio, quando um sujeito se aproximou dele, após o espetáculo, e propôs - 'Quer ir para Diamantina?' Cacá Diegues rodava Xica da Silva, com Zezé Motta e Walmor Chagas. Wilker nem conhecia o diretor, mas o ator que deveria fazer o papel ficou impedido e ele não pensou muito. Topou. O cinema já estava em sua vida desde que apareceu, sem crédito, em A Falecida, de Leon Hirszman. Fez depois El Justiceiro, de Nelson Pereira dos Santos; Vida Provisória, de Maurício Gomes Leite; Estranho Triângulo, de Pedro Camargo; Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade; O Casal, de Daniel Filho, com Sônia Braga. Xica da Silva marcou o início não só de uma parceria, mas de sua amizade com o diretor Cacá Diegues, que prosseguiu com papéis em Bye-Bye Brasil, Trem para as Estrelas, Dias Melhores Virão, O Maior Amor do Mundo. Num depoimento para TV, Cacá ressaltou o entusiasmo do ator e sua imensa cultura de cinema. Sabia tudo sobre filmes, disse. Sobre aspectos essenciais de Lorde Cigano, o protagonista de Bye-Bye Brasil, Cacá acrescentou que, embora o personagem tenha sido criado por ele, Wilker somou tanto que o diretor não tem a menor dúvida de creditar o sucesso - nacional e internacional - do filme ao prazer com que o ator assumiu o papel. Wilker tinha um humor especial. Era auto-irônico. Brincava com o próprio ego. Fez muito cinema, muitos bons filmes. Fez aquele que era, até recentemente - até ser destronado por Tropa de Elite 2, de José Padilha -, o maior sucesso de público do cinema no País - Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. Seu Vadinho marcou o imaginário dos brasileiros. Ele dirigiu, recentemente, Giovanni Improtta - que Cacá produziu -, retomando o personagem que criara na novela A Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva. O filme começava bem e terminava melhor ainda, embora tivesse seus problemas lá pelo meio. Na TV, foram muitos os grandes personagens e as novelas emblemáticas. Os Ossos do Barão, O Bofe, Roque Santeiro. Foram muitas peças também, como ator e diretor. A soma de tudo isso é essa grande carreira que o Recife não teve tempo de homenagear em vida. Feche os olhos, e você vai se lembrar dos bordões do Wilker. A alegria com que ele se referia à 'peladinha' de Florípedes, a sexy Sônia Braga de Dona Flor. Ou a forma autoritária com que dizia, como o autoritário coronel do remake de Gabriela, à mulher que mandaria matar - 'A senhora vá para o quarto que hoje vou lhe usar.' Wilker não se vexava de dizer que passou fome ao chegar ao Rio, aonde veio, do Ceará, para tentar a carreira. Talvez tenha sido essa origem que lhe permitiu dar uma cara ao homem brasileiro. O restante, foi aprimoramento pessoal. Cultura, inteligência, generosidade. 

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