José Saramago termina seu novo livro, 'A Viagem do Elefante'

Romance tem personagens que estão nos manuais de história junto com personagens anônimos

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Por Lola Cintado e da Efe
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O escritor português José Saramago acaba de terminar seu novo livro, A Viagem do Elefante, que conta a história real de uma viagem épica de um elefante asiático que, no século 16, viajou de Lisboa para Viena. Em breve, o público brasileiro poderá assistir nos cinemas a adaptação de seu romance Ensaio Sobre a Cegueira, dirigida por Fernando Meirelles, que já tem data de estréia no Brasil, 12 de setembro, com elenco estelar: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Gael García Bernal e Danny Glover.   Veja também: Saramago inaugura mostra e fala de forma crítica sobre seu país   "Por muito incongruente que possa parecer..." são as primeiras palavras de A Viagem do Elefante, uma idéia que Saramago carrega há mais de dez anos, quando viajou à Áustria e por acaso entrou em um restaurante de Salzburgo chamado The Elephant (O Elefante). O Prêmio Nobel de Literatura respondeu às perguntas da Agência Efe em sua casa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde terminou seu livro e já recuperado de uma doença respiratória que ameaçou sua vida.   Mais de uma vez pensou que não chegaria a concluir a obra, que tem aproximadamente 240 páginas e que chegará no segundo semestre aos leitores das línguas portuguesa e espanhola. "Este conto, prefiro chamá-lo assim - melhor que romance -, é o que sempre pensei que deveria ser. A doença não mudou nada", diz Saramago, que afirmou que não deseja dramatizar "a situação do autor frustrado por algo mais forte que sua própria vontade".   "Eu escrevi meus três últimos livros na mais deplorável situação de saúde, nada favorável para sentimentos de alegria. Prefiro dizer: se você tem que escrever, escreverá", acrescenta. A escrita do livro foi interrompida por causa de sua doença e, ao ouvi-lo relatar suas sensações quando estava à beira da morte muitos se lembram do violoncelista protagonista de seu romance As Intermitências da Morte, embora acreditem que a realidade não imitou a ficção que ele próprio criou.   "As Intermitências da Morte é um romance cheio de humor e ironia, não me lembro de ter assumido a ameaça que espreita o meu violoncelista. É certo que já estava doente, mas consegui construir uma barreira entre o eu que escrevia e o eu que sofria", declarou Saramago.   O escritor português não só "construiu barreiras" entre sua literatura e sua vida, mas é capaz de se isolar de tudo o que lhe cerca, até o ponto de escrever em seu computador portátil enquanto várias pessoas conversam no sofá da sala.   "Lembro que parte do romance Todos os Nomes foi escrita em casa. Enquanto os pedreiros faziam seu trabalho e contavam piadas uns para os outros, eu, no quarto ao lado, separado apenas por uma lona plástica que servia de porta, continuava construindo as peripécias de meu personagem Dom José. Nunca os mandei se calarem. Eles estavam na sua, eu estava na minha", afirmou Saramago.   Segundo sua tradutora e mulher, Pilar del Río, A Viagem Do Elefante é um livro no qual entram e saem personagens que estão nos manuais de história junto com personagens anônimos, pessoas vão se cruzando e compartilham perplexidades, esforços ou a harmoniosa alegria de um teto.   Pilar, que também é presidente da Fundação Saramago, acrescenta que "a compaixão solidária atravessa a obra, a distingue e a significa".   Também fazem parte da mesma ironia, sarcasmo e humor, que o escritor emprega "para salvar a si próprio e para que o leitor possa penetrar no labirinto de humanidades em conflito sem ter de renunciar à sua condição indagadora de humano e de leitor". Se o livro contém alguma parábola, é algo que os leitores dirão, mas o autor revela que nesta nova obra não há personagens femininas com personalidade forte como Blimunda, de Memorial do Convento, ou a Mulher do Médico, de Ensaio Sobre a Cegueira.   A Viagem do Elefante foi concluído neste fim de semana e agora Saramago descansa e aproveita para ler Diário de um Ano Ruim, do  scritor sul-africano J.M. Coetzee, também premiado com o Nobel, em 2003.

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