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José Celso Martinez Corrêa vai recontar "Os Sertões"

Por Agencia Estado
Atualização:

Nesta quinta-feira faz 103 anos do fim da Guerra de Canudos, confronto narrado por Euclides da Cunha nas páginas do jornal O Estado de S. Paulo da época e, posteriormente, em Os Sertões, clássico da nossa literatura que será encenado por José Celso Martinez Corrêa. A partir de amanhã, o diretor teatral abre as portas do Teatro Oficina para receber atores. Mais precisamente, gente que "tenha experiência com o palco e com as decepções e os desertos da luta teatral e da vida", para montar o elenco do espetáculo. Os interessados em participar da montagem devem entrar em contato com a Oficina Oswald de Andrade, que organizará as inscrições, pelos telefones (0- -11) 221-5558 ou 222-2662. Ou então pessoalmente, na Rua Três Rios, 363, em São Paulo. O projeto não é novo. Zé Celso já havia escrito uma adaptação cênica da obra com Marcelo Drumond no fim da década de 80. O texto fazia alusão às eleições presidencias do período, mas não chegou a ser montado. "Ensaiamos A Terra e O Homem, mas os participantes, alunos, dispersaram-se no momento de trabalhar em A Luta", lembra ele. Antes disso, o livro de Euclides da Cunha, conta Zé Celso, havia fundamentado filosoficamente a reocupação do Teatro Oficina. Quando voltou do exílio, o dramaturgo realizou um alistamento simbólico de soldados para a reconstrução do local. ´"Foi uma aglutinação que reuniu sertanejos, negros, artistas e gente com força para lutar com o teatro, que é uma arma muito poderosa", conta o diretor. Nesse encontro foram derrubadas as paredes do velho teatro. De acordo com ele, a grande reportagem sobre a luta no sertão baiano é a semente da fase pós-reconstrução do Oficina, período que pode ser dividido entre sua adaptação para Hamlet, e Cacilda!, peça que escreveu. Agora, Zé Celso volta a bater a bigorna do Oficina, um objeto simbólico de chamado e também de forjamento de armas para essa retomada do texto, em uma fase nova do teatro. "Nesse momento, é contra uma cultura dominante mercadológica que estamos nos colocando", observa. "Vivemos no ápice de uma contradição do mundo contemporâneo que se pretende globalizado, mas que impede a aglutinação das forças da sociedade", continua Zé Celso. Uma das batalhas do diretor hoje é pela realização do espaço de arena nos fundos do teatro, onde hoje funciona um estacionamento, e pela preservação da região do Oficina, que pode ter uma área vizinha ocupada por um shopping center, projeto de propriedade do Grupo Silvio Santos. Zé Celso diz que o conflito com o empresário tornou a montagem do texto mais urgente. "Afinal, é o conflito da barbárie contra a civilidade", observa. "Euclides da Cunha encontrou a rocha viva de uma civilização brasileira; ele inventou o Brasil antropofágico, universal, abrindo mão da visão européia e positivista que marcaram sua formação até Canudos", dimensiona. A opção pela preservação da linguagem literária de Os Sertões é uma das poucas definições do projeto, que não tem data de estréia e nem número de participantes definido. "A linguagem de Euclides da Cunha é profundamente teatral", justifica o dramaturgo, que pretende exercer, no máximo, "uma escultura a partir do texto". Para ele, o escritor descreve a guerra com um tipo de narração shakesperiana que deve ser preservada no palco. "Por isso, temos de criar uma obra de arte absolutamente sintonizada com o livro." Zé Celso adiantou também alguns desenhos de cena (que fugirão das proporções épicas). A trilha sonora da peça ficará a cargo de Tom Zé.

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