José Castello parte para a ficção

O jornalista e cronista do Estado lança seu primeiro livro de ficção, Fantasma, sobre um arquiteto que conta detalhes de Curitiba tomando como referência o poeta Paulo Leminski, uma das grandes figuras da cidade

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Por Agencia Estado
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O escritor, insatisfeito com o esboço de um ensaio encomendado sobre Curitiba, decide combater o desânimo inventando um personagem, um arquiteto, que, contrariado como ele, também luta para escrever um texto sobre a mesma cidade. Realidade e ficção - José Castello, escritor e cronista do jornal O Estado de S. Paulo, desgostoso com o texto que escrevia sobre a capital paranaense para a coleção Metrópoles, da editora Record, acaba escrevendo Fantasma (Record, 386 páginas, R$ 35), livro com que o autor estréia na ficção e será lançado nessa terça-feira, na Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro, e na quinta-feira, em São Paulo, na Livraria Cultura (Avenida Paulista, 2.073), a partir das 18h30. O texto narra os momentos atormentados de um arquiteto sessentão, que se propõe a revelar os detalhes de Curitiba por meio do poeta Paulo Leminski, referência da cidade, morto em 1989. Não bastasse a irritação com o livro que escreveu, mas não entregou ao editor, ele é subitamente abordado, no Jardim Botânico, por uma estranha mulher que dispara quatro palavras mortais: "Paulo Leminski não morreu." É o suficiente para incentivá-lo a devassar a cidade, mas, ao perseguir o fantasma do poeta, é a própria cidade que ele encontra. Nega a existência de traços autobiográficos. "A única semelhança entre mim e o arquiteto é que tentamos escrever um ensaio sobre Curitiba e fracassamos", assegura Castello. Também não se trata de uma biografia disfarçada de Leminski. "No livro, ele não passa do que o título diz: um fantasma, uma visão, que monopoliza a trama sem jamais participar diretamente dela." Outra falsa impressão que o escritor busca diluir é o de classificar seu romance de gótico. O que o arquiteto descobre em sua busca, movido pelas quatro palavras, é a Curitiba submersa, real, uma face da cidade ocultada pela política oficial, pós-moderna, modernosa, de fachada. "Trata-se da capital dos migrantes deprimidos e das almas congeladas, cheias de temores e escrúpulos", afirma Castello. A experiência como jornalista (trabalhou em redações entre 1971 e 91 e há nove anos colabora no Estado) influenciou de forma decisiva, especialmente no estilo da escrita, um dos pontos altos do romance. As atitudes do arquiteto são movidas por uma obsessão. "Ele sabe que não vai encontrar novamente a mulher e tampouco Paulo Leminski está vivo, mas, como se trata de um obsessivo, insiste", comenta Castello. "Por isso, a linguagem é repetitiva, minuciosa; o arquiteto é atropelado pelas palavras e seus encontros não levam a nada: embora haja diversos acontecimentos, não levam a lugar algum." Castello lembra, com prazer, de um momento inspirado do escritor argentino Ricardo Piglia ao dizer que a literatura é uma maneira de não se decidir entre a realidade e a ficção. "É exatamente como eu penso." Fantasma remete também à fantasia", conta Castello, decidido a continuar com o projeto de se tornar romancista e retornar ao seu livro mais ambicioso, Separação de Corpos, iniciado há dois anos e prestes a ter sua quarta versão.

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