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Jornal diz que o escritor JT Leroy é mulher

Autor do cult Sarah, que desfilou de óculos escuros e casaco de couro preto na Festa Literária de Paraty é mulher e confirmou presença na Bienal do Livro de SP

Por Agencia Estado
Atualização:

O andrógino escritor norte-americano JT Leroy, autor do cult Sarah, não é certamente J.D. Salinger, mas sabe se esconder atrás de disfarces e usar a mídia como ninguém. No ano passado, ao lançar seu livro na Festa Literária de Paraty (Flip), convidado pela Geração Editorial, desfilou com gigantescos óculos escuros que cobriam metade de seu rosto e um casaco de couro preto caro demais para quem passou quase metade de sua curta vida (25 anos) vendendo o corpo para caminhoneiros da Virgínia Ocidental. JT Leroy publicou três livros de ficção aclamados pela crítica e vendidos no mundo todo. Esta semana, o jornal New York Times descobriu que o escritor é, na verdade, uma mulher, supostamente Savannah Knoop, meia-irmã de Geoffrey Knoop, marido de Laura Albert, que teria resgatado o garoto quando adolescente. A história é um tanto confusa. Laura, de 40 anos, casada com Geoffrey, de 39, são roqueiros que não conseguiram fama nem projeção no mundo artístico, segundo o autor da denúncia, o jornalista Stephen Beachy. Laura teria, então, inventado o personagem de Leroy para ter acesso aos círculos literários. Com o sucesso do primeiro livro do escritor, The Heart Is Deceitful above All Things (que será lançado pela Geração Editorial no dia 20, coincidindo com a estréia do filme, ambos com o título Maldito Coração) Laura teve de procurar um ator (ou uma atriz) para interpretar o papel do andrógino. Segundo Beachy, o casal teria convocado Savannah Knoop, o "loiro" e andrógino Leroy que desfilou em Paraty no ano passado. O editor brasileiro de Leroy, Luís Fernando Emediato, se mostra surpreso e diz que está investigando o caso. No ano passado, ao apresentar o passaporte no hotel onde ficou hospedado, JT Leroy era mesmo Jeremiah Leroy. "Pode ser que a pessoa tenha apresentado um passaporte falso", desconfia Emediato. De qualquer modo, ele não arrisca opinião sobre a verdadeira identidade sexual do escritor. "Ele é uma pessoa tímida, não dá para saber se é homem ou mulher", conclui. "Para mim, como editor, não faz a menor diferença." Para o leitor, no entanto, muda toda a história de Sarah. A mãe do garoto, uma prostituta, o introduz cedo no mundo das drogas. Leroy tem apenas 12 anos. Usa batom e veste-se como uma menina. A mãe acha graça. Proíbe o garoto de fazer pregações bíblicas como ensinou o avô. No final dessa história, ambos, mãe e filho, vão parar num hospital, internados com overdose. A história foi escrita entre 1994 e 1997, segundo contou Leroy numa entrevista à Agência Estado, no ano passado. Por e-mail. O escritor evita entrevistas ao vivo e foge de fotos. "Escrevi as histórias de The Heart Is Deceitful above All Things da mesma maneira que um tubarão se move, ou seja, para sobreviver", revelou Leroy na entrevista. Educado por um avô rigoroso e violento, que o obrigava a ler os evangelhos, o garoto cresceu revoltado. Disse, na mesma entrevista, que a pregação do avô foi "estéril". "A única maneira de me sentir amado era ser punido e depois tocado por ele, o que me fez crescer associando a idéia de ser surrado a uma sensação de alívio." O filme de Asia Argento começa, aliás, com uma cena violenta. Uma loira oxigenada arranca Leroy dos pais adotivos e o leva para a estrada, oferecendo o "pisteiro" a caminhoneiros hipersexuados. Leroy vira garoto de programa e amante dos drogados companheiros que a mãe arruma pelo caminho. Reprodução/A capa do livro Sarah Em Sarah, já sozinho, ele assume a persona da mãe, adota o nome de Cherry Vanilla e passa a usar um amuleto feito de osso de guaxinim. O livro Maldito Coração é a primeira parte dessa história. Quando Leroy adolescente vai parar numa clínica psiquiátrica, seu analista sugere que escreva sua história como parte do tratamento. Na versão apresentada pelo jornalista Stephen Beachy, trata-se de uma história fantasiosa. Laura Albert teria pedido a um amigo que datilografasse os manuscritos e recebido o dinheiro dos direitos autorais pagos à irmã Joanna Albert. Hotéis parisienses teriam mesmo identificado Laura como o verdadeiro JT Leroy. Laura, segundo funcionários da Disneylândia de Paris, fez uma operação para trocar de sexo. O mistério poderá ser esclarecido na próxima Bienal do Livro de São Paulo, em março. JT Leroy foi convidado por Emediato para autografar seu livro. Aceitou. Vem em companhia de Laura Albert, segundo o editor.

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