PUBLICIDADE

John Neschling volta hoje à Sala São Paulo

Após três anos da polêmica demissão da Osesp, maestro retorna ao palco que o consagrou

Por JOÃO LUIZ SAMPAIO - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Os olhos do mundo musical brasileiro estarão todos voltados na noite de hoje para a Sala São Paulo. Mais precisamente, para o pódio de onde um maestro comandará os músicos da Orchestra della Svizzera Italiana. O russo Alexander Vedernikov, anunciado no início do ano como regente do concerto, cancelou a vinda ao Brasil por motivos de saúde. Para o seu lugar, os produtores decidiram convidar o brasileiro John Neschling - e, então, o que seriam apenas mais dois concertos da temporada da Sociedade de Cultura Artística passaram a carregar novo significado, marcando o retorno do maestro à sala na qual não pisava desde que foi demitido do cargo de diretor artístico da Osesp, em 2008. "Sei, dentro de mim, que estou e estarei sempre presente na Sala São Paulo", diz um John Neschling mais tranquilo sobre seu retorno ao palco que o consagrou - e que ele ajudou a construir, fazendo da Osesp um dos principais conjuntos sinfônicos da América Latina. Sua saída foi rumorosa, após meses de desentendimentos internos e com o governo do Estado, incluindo uma batalha judicial da qual a orquestra acabou saindo vitoriosa. Um ano depois, ele voltou à cena, à frente da Companhia Brasileira de Ópera, que comandou durante uma temporada. No final de 2010, no entanto, desligou-se do projeto. Encerrou seu blog com um desabafo. "Admiro a coragem de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mas por que um país com essas pretensões é incapaz de ter um teatro de ópera decente? Por que continuamos a ignorar a cultura como um dos pilares do desenvolvimento econômico?", escreveu, comunicando ao público que deixaria o País e voltaria a se radicar na Suíça. Desde então, o maestro tem atuado como regente convidado de orquestras europeias. E, em especial, voltou a se dedicar à ópera. Gravou, em Palermo, na Itália, uma Traviata, de Verdi, com a soprano Daniela Dessì e o tenor Fabio Armiliato (que foi visto recentemente como o cantor de chuveiro de Para Roma, com Amor, filme de Woody Allen); no Teatro Colón, de Buenos Aires, regeu Don Giovanni, de Mozart; na Arena de Verona, La Bohème, de Puccini. "Toda a minha vida foi dedicada à ópera" diz o maestro, que dirigiu, antes da Osesp, os teatros municipais do Rio e de São Paulo. "Mesmo durante meu período com a orquestra, fiz da ópera parte de seu repertório. Mas o fato é que a Osesp me prendia muito a São Paulo. E, uma vez de volta à Europa, era natural que voltasse às minhas atividades líricas." Desde o início do ano, ele é também regente convidado principal da Orquestra Sinfônica do Paraná. O repertório dos concertos de hoje e amanhã é composto pela Pastoral de Verão, de Arthur Honegger, o Concerto nº 2 de Chopin (com solos de Dang Thai Son) e a Sexta Sinfonia de Schubert. Neschling herdou o programa de Vedernikov e não fez alterações. Diz que não vê um fio condutor que unifique as peças escolhidas. "A sensação que tenho é de que são obras que funcionam bem com uma orquestra como a da Svizzera Italiana: teremos uma obra conhecida do repertório nacional suíço, um concerto muito popular e uma das sinfonias menos executadas de Schubert." Alegando problemas de agenda, Neschling falou com a imprensa apenas por e-mail. Sobre as diferenças entre o cenário musical brasileiro e a realidade encontrada no retorno à Europa, diz que são contextos "fundamentalmente diferentes". "Cidades de 50 mil habitantes têm uma casa de ópera e uma sinfônica funcionando regularmente, mesmo em época de crise econômica profunda. Existe uma necessidade social de cultura e uma aceitação tácita de que essa linguagem faz parte do cotidiano de um povo civilizado." Sobre a Osesp, Neschling não entra em detalhes. Ele se diz feliz e emocionado de voltar à Sala São Paulo. Garante que não acompanha, porém, as atividades da orquestra. "Vez ou outra recebo uma nota de carinho de algum músico." Sobre Artur Nestrovski, diretor artístico que o sucedeu, assim como Marin Alsop, nova regente titular (Neschling acumulava os dois cargos), é discreto. Fala apenas de modo geral sobre o novo modelo de gestão. "A separação entre diretor artístico e regente titular é uma forma americana de administrar. Às vezes funciona, às vezes não. Quando o regente titular se dedica quase exclusivamente à sua orquestra, fica difícil a separação dos cargos." Sente alguma mágoa? "Não tenho tempo para isso." E que balanço faz da sua gestão à frente do grupo? "Não sou eu quem o fará. É a história. Os discos estão gravados, a Sala está construída, os músicos vivem decentemente. A minha parte foi feita."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.