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Joel Silveira relembra vida de repórter

Em Memórias de Alegria conta suas aventuras como um dos repórteres que marcou a história do jornalismo brasileiro

Por Agencia Estado
Atualização:

Joel Silveira, de 83 anos, uma vez candidato (à vaga de Barbosa Lima Sobrinho) - e agora anticandidato (à de Jorge Amado) - à Academia Brasileira de Letras, é um dos repórteres que marcaram o jornalismo brasileiro. Além de ter atuado como correspondente na 2.ª Guerra Mundial, acompanhando as Forças Expedicionárias Brasileiras, cobriu fatos e personagens que marcaram a vida política do País. Agora, já na idade "mais que provecta", como ele próprio define, dedica-se a escrever e reescrever suas lembranças - e mais algumas delas, novas e velhas, estão reunidas num novo volume, que recebeu o simpático título Memórias de Alegria - extraído de um verso do canto 3.º de Os Lusíadas. "O título não é meu, é do Luís de Camões, e as lembranças são mais dos outros do que minhas", brinca Silveira, nascido em Sergipe, mas desde 1937 um morador no Rio de Janeiro. "Eu vivi uma vida intensa, falei com muita gente, acho que tenho o que contar", continua. Nesse livro, estão reunidas especialmente lembranças de repórter de Silveira. O texto que dá início à obra, por exemplo, rememora sua cobertura de uma batalha que não houve: a de Goiânia, quando o coronel Mauro Borges, governador do Estado de Goiás, ameaça uma resistência, em novembro de 1964, ao regime que chegara ao poder meio ano antes. Retido no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, com a família do governador, Silveira só pôde relatar o que não aconteceu nos três dias da "resistência", depois que Brasília achou uma saída jurídica para o afastamento de Borges - que aceitou o acordo. Apesar de falar de momentos críticos e de nomes importantes da vida política e cultural brasileira - passeiam pelas páginas de João Goulart (que o recebeu de paletó de pijama) a Antônio Maria (um campeão de fliperama), da poetisa Adalgisa Nery ("trintona tão bonita") a Tancredo Neves ("um homem reconhecidamente bem-educado"), o livro cumpre o que promete seu título: há um clima de otimismo, de bom humor, que atravessa todos os textos. O comentário, em geral, é secundário, lateral, como que retirando essa espécie de farda que as personalidades e os políticos parecem carregar na guerra do dia-a-dia. "É um livro alegre, mas verdadeiro, não tem invenção; tenho a impressão de que ele vai agradar", avalia o autor. Antes um fanático defensor da máquina de escrever portátil (vira e mexe, ela aparece nas suas narrativas, quase tanto quanto os uísques que o fígado do jornalista enfrentou bravamente), Silveira agora dita seus textos. Problemas de saúde lhe tiraram as forças dos braços. "Não me adaptei ao computador não tenho paciência; é como pedir para um sujeito que sempre ouviu Beethoven para tocar Chopin, não dá." Apesar de dizer que tem "horror a falar" (ao contrário do que diz de José Lins do Rego), Silveira afirma estar contente com o novo modo de trabalho. "Dá para perceber os erros mais rapidamente, a gente troca na hora, não deixa para depois." Ditando e abrindo as gavetas de textos já publicados ou não, Joel prepara agora uma continuação de seu livro Fogueiras, publicado pela Mauad, a mesma editora de Memórias de Alegria em 1998. "Essas são memórias mais pessoais." Quanto à candidatura à ABL, Joel desconversa. Diz que sabe que vai ser derrotado, que não fez campanha nenhuma, que lançou seu nome apenas como anticandidato ao consenso que se formava em torno de Zélia Gattai. Como não pode mais andar, declara: "Meu medo agora é ganhar: de que adianta ser eleito e não poder ir à Academia?"

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