Joel Silveira ataca Zélia e se candidata à ABL

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Por Agencia Estado
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Acabou a unanimidade. Indignado com a candidatura da escritora Zélia Gattai à Academia Brasileira de Letras (ABL), o jornalista e escritor Joel Silveira, de 82 anos, se lançou hoje na disputa ? batendo pesado na adversária e até em Amado. Segundo ele, Zélia é "uma escritora medíocre", feita à custa do marido, e este só vendeu milhões de livros por suas ligações com o Partido Comunista. Isso teria levado os países do Leste Europeu, até os anos 90 sob ditaduras de esquerda, a lançar "tiragens fantásticas" da obra do escritor ? da qual, confessou, não gosta. "Zélia não pode ser eleita por unanimidade, tenho alguns amigos que vão votar em mim", disse Silveira ao Estado. "Na história da ABL, só houve duas unanimidades: Getúlio Vargas, que era um ditador e todo mundo votou nele para não ser preso, e Assis Chateaubriand (fundador dos Diários Associados), de quem todo mundo também tinha medo." O escritor e jornalista, que tem 37 livros publicados e foi correspondente na Segunda Guerra Mundial, reconheceu que está lançando uma "anticandidatura" e que a adversária vencerá. "Vai ser L?Armatta Brancaleone (referindo-se à comédia italiana) contra a Wehrmacht (exército nazista alemão)." Silveira afirmou que o que o fez "perder a cabeça" e lançar a anticandidatura foi uma entrevista da escritora, publicada em O Globo, ontem. "Ela disse: ?Quem está se candidatando não é a viúva de Jorge Amado, é a escritora Zélia Gattai.? Meu Deus do céu! Ela é escritora porque é mulher do Jorge Amado, se não fosse, ninguém editaria seus livros. É uma escritora de quinta categoria", atacou. "Zélia não é escritora. Meteu-se a escritora para vender livros nas costas do Jorge Amado. E por todas as coisas boas que o Jorge podia dar para ela: viagens, apartamento em Paris..." Segundo o anticandidato, Amado "sempre teve posições muito dúbias". "Todos os países do Leste Europeu, sob domínio soviético, publicavam seus livros, tiragens fantásticas", provocou. "Olhando assim, Paulo Coelho leva vantagem. Não sei se é melhor ou pior, mas o fato é que não precisou de ajuda. Eu não gosto (dos livros de Coelho), mas ele vende milhões, em 72 línguas." Silveira afirmou também não gostar da obra de Amado. "Ele tem um livro bem razoável, Jubiabá; recentemente, eu o reli, mas vi que não é tão bom como achei da primeira vez." Amigo de Amado até 1939, Silveira contou que se afastou do escritor, que chegara a considerar uma espécie de guru, quando os dois trabalhavam no suplemento literário do jornal Meio-Dia. Era a época do Pacto Germano-Soviético, pelo qual a Alemanha de Adolf Hitler e a URSS de Josef Stalin acertaram que não se atacariam, o que viabilizou a invasão da Polônia pelos nazistas e deflagrou a Segunda Guerra Mundial. Amado, contou o jornalista, foi ser diretor do suplemento, que, segundo Silveira, era sustentado pela embaixada alemã. ?Muita gente colaborou no jornal, inclusive eu, mas depois caí em mim?, contou. ?Eu tinha 20 anos, já tinha estado com ele em Sergipe, e me deixei levar.? Silveira contou que não chegou a haver uma briga entre os dois, mas um distanciamento. ?A última vez em que nos vimos foi há uns dez anos, em Maceió, quando se comemorava um aniversário da publicação de São Bernardo, de Graciliano Ramos. A família de Graciliano me convidou, eu fui, e o Jorge foi também. Tratamo-nos bem.? Silveira, que já foi candidato à cadeira que era de Barbosa Lima Sobrinho na ABL, mas acabou desistindo, disse que não pretende fazer campanha agora. ?Eu estava praticamente eleito (na vez anterior), faltavam dois votos, quando Raimundo Faoro resolveu se candidatar. Aí renunciei à minha candidatura, porque pensei: ?Raimundo tem que estar na Academia.? Na disputa com Zélia, porém, ele promete ir até o fim. ?Vou ser triturado, vou ser esmagado?, previu, rindo. Silêncio - A escritora recusou-se a responder às críticas do jornalista Joel Silveira e manteve sua candidatura à ABL. A filha da escritora, Paloma Amado, disse ontem que Zélia não vai entrar em polêmica com Silveira. "Ele pode falar o que quiser e fazer o que quiser", comentou. Paloma só achou uma "coisa triste" o jornalista fazer criticas a uma pessoa que passa por momento tão difícil, depois de uma perda tão grande. "Mamãe vai adiante na sua pretensão de assumir a cadeira de papai na Academia sem alardes ou se preocupar com agressões", concluiu.

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