João Gilberto perde batalha para reaver sua obra

PUBLICIDADE

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

João não está feliz. Ainda lhe dói a alma lembrar do dia em que a gravadora EMI-Odeon resolveu relançar seus três álbuns fundamentais, em 1987. A voz limpa para ser cool em 1959, gravada em Chega de Saudade, vinha com ecos e brilhos. "Algo como botar um bigode na Mona Lisa", diz à reportagem a jornalista e namorada do compositor, Claudia Faissol. A sequência das músicas também lhe parecia estranha, fora de lugar. João suspirou fundo e foi à luta - em seu ritmo, claro. Sete anos depois de se contorcer de raiva, entrou na Justiça contra a gravadora e começou uma das mais dolorosas batalhas da música brasileira.A última decisão da Justiça deixa João ainda mais triste. Depois de ganhar dois rounds nos últimos dias, ele perde uma batalha importante. Primeiro, a juíza Simone Nacif obrigou a gravadora a entregar a ele os masters (gravações originais) dos álbuns reclamados Chega de Saudade, de 1959; O Amor, O Sorriso e a Flor, de 1960; João Gilberto, de 1961; e o compacto João Gilberto Cantando as Músicas do Filme Orfeu do Carnaval. Havia até prazo para isso: cinco dias. A EMI então recorreu da sentença e João venceu de novo. O juiz Sergio Wajzenberg determinou que a empresa cumprisse a decisão, chegando a estipular multa de R$ 100 mil e busca e apreensão do material caso ele não fosse entregue. Wajzenberg acatou ainda o pedido para que fosse feita uma perícia nas fitas que seriam entregues. Até o perito foi nomeado: o produtor Marco Mazzola. A reviravolta veio ontem (14), por volta das 17h, quando o desembargador André Gustavo Correa de Andrade julgou o novo recurso que a EMI levou à 2ª instância, para derrubar as decisões anteriores. Agora, o magistrado entende que João não apresenta condições de cuidar de seu material. "A entrega pura e simples das gravações originais (a João), sem prova de que elas ficarão sob os cuidados de empresa especializada em guardar e acondicionar em condições ideais esse tipo de material, é medida temerária", escreveu em sua decisão.O caso que opõe decisões de juiz e desembargador segue para ser analisado pelos desembargadores da 7ª Câmara Cível do Rio de Janeiro, sem data para ocorrer. A EMI, procurada pela reportagem, manteve sua estratégia do silêncio. "No momento, a companhia não tem interesse em se pronunciar", informou, por meio de sua assessoria de imprensa. Já Claudia Faissol falou, antes da nova decisão da Justiça: "É uma conduta desastrosa não só contra João Gilberto, mas contra o nosso País". Já João Gilberto, 81 anos e nenhuma previsão de voltar aos palcos ou aos estúdios, segue triste e calado.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.